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Editorial

O sobressalto dos resultados do IPCA de dezembro

Especialista comenta como o índice pode ser interpretado

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O sobressalto dos resultados do IPCA de dezembro
A combinação de políticas fiscal e monetária ainda não assegura a convergência da inflação (Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

Geralmente, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, de dezembro é aguardado com grande expectativa, pois encerra o balanço da inflação anual. O resultado de 2023 pode ser interpretado de duas maneiras distintas.

Primeiro, ao analisarmos o fechamento, observamos uma elevação de 4,62%, mantendo-se na meta estabelecida: 3,25% ao ano (a.a.). O Banco Central (Bacen) dispõe de uma “margem de manobra” de 1,5%, permitindo que a inflação seja entregue dentro do intervalo entre 1,75% e 4,75%. Por uma margem estreita, esta é a primeira vez, desde 2020, que a meta combinada com a “banda” é atingida.

Dado o cenário de surpresas inflacionárias ao longo do ano passado, encerrar o mês de dezembro dentro da banda superior é uma conquista importante para o Bacen, que esteve sob pressão política em várias ocasiões para reduzir a taxa de juros, mantendo uma abordagem consistente — e, agora, colhendo os frutos desse trabalho.

No entanto, sob outra perspectiva, o índice revela uma surpresa negativa no mês passado, que se encerrou com um aumento de 0,56%, equivalente a mais de 6% anualizado, em uma análise simplificada. No mesmo período do ano anterior, a inflação foi ainda mais intensa, registrando 0,62%, o que permitiu uma baixa anual.

A grande preocupação reside no desempenho do segmento de alimentos e bebidas, que apresentou elevação de 1,11%, mantendo uma trajetória ascendente nos últimos meses. Em novembro, já tinha subido 0,63%, sendo os alimentos em domicílio os principais responsáveis por esse resultado, com um aumento mensal de 1,34%.

A perspectiva de menor crescimento da China e a ausência de novos conflitos em zonas produtoras de commodities proporcionam um cenário mais tranquilo. Contudo, é um número que requer acompanhamento, dado o seu impacto significativo à composição do indicador. Aqui, o que se destaca é o resultado dos itens avaliados. Os nove grupos apontaram variação positiva, sinalizando o alerta para uma expansão generalizada: com exceção do grupo de comunicação, todos tiveram altas maiores que 0,34%.

Outro dado relevante que merece atenção é o aumento nos Serviços. Em dezembro, o setor apresentou incrementos médios de 0,60%, seguindo altas de 0,59%, em outubro, e 0,70%, em novembro. Vale ressaltar que os Serviços são um proxy do aquecimento da economia, além de considerados, pelo Bacen, um dos indicadores mais importantes na determinação das taxas de juros.

Em suma, apesar da boa notícia no que diz respeito à inflação em 2023, as perspectivas causam apreensão. Em um ano no qual a expansão fiscal foi a tônica, a inflação responde e começa a inquietar os economistas, pois é bem provável que esses números tenham elevado a percepção de risco dos diretores do Bacen, restringindo o piso da Selic após o ciclo de queda.

Essa análise revela uma conjuntura ainda aquecida, ao passo que a combinação de políticas fiscal e monetária ainda não assegura a convergência da inflação.

Por isso, o índice de dezembro acende a luz amarela para aqueles que estavam muito otimistas com o ciclo de queda da Selic, direcionando o foco para o maior problema da economia brasileira atualmente: a expansão fiscal. Mais uma vez, há o risco de os gastos do governo afastarem o setor privado, em um momento propício para investimentos.

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 11 de janeiro de 2024.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).

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