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Sustentabilidade

Países com escassez de água apostam em dessalinização e até importação para resolver problema

Para especialistas, medidas são muito drásticas e caras para o Brasil, que deveria investir mais em reuso e equipamentos com uso mais eficiente

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Países com escassez de água apostam em dessalinização e até importação para resolver problema

Por Jamille Niero

De acordo com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, 21% são utilizados pela indústria e apenas 6% destina-se ao consumo doméstico. Neste cenário, países onde a escassez de água é uma realidade antiga e constante adotaram medidas para superar essa questão. Essas medidas podem servir de inspiração para regiões do Brasil que recentemente passaram a conviver com a falta deste líquido essencial.

O avanço da tecnologia proporciona desde a dessalinização da água do mar (muito usada por Israel e outros países do Oriente Médio) até a importação de água potável (estratégia por vezes utilizada por Cingapura). Outras medidas incluem ainda o tratamento do esgoto, água de reuso, armazenamento de água da chuva, construção de reservatórios, incentivos a equipamentos que utilizam a água de forma mais eficiente e a irrigação de lavouras por gotejamento. 

“Dessalinização da água do mar e a importação de água são medidas desesperadas, típicas de regiões do planeta onde há muita escassez, como em desertos. É uma condição climática diferente da do Sudeste brasileiro”, observa o professor do curso de graduação em Geologia da Unisinos, Aníbal Gusso. Segundo o especialista, são medidas que, se adotadas no Brasil, poderiam elevar muito o custo da água para o consumidor. Ele destaca que o principal problema enfrentado pelos estados do Sudeste, especialmente São Paulo, é a falta de planejamento no longo prazo, já que não é a primeira vez que ocorre período de chuvas abaixo da média. O principal problema apontado por Gusso não é a queda na disponibilidade de água – que nunca foi grande – mas o aumento do consumo. 

O especialista em hidráulica e saneamento e professor da graduação em Engenharia da Unesp Jefferson Nascimento de Oliveira concorda que o planejamento é importante – falta proteger os mananciais da região e um sistema eficiente de tratamento de esgoto. Ele acredita ainda que uma medida importante seria aumentar o preço pago pelos consumidores – seja doméstico, industrial ou agrícola. Isso faria com que a água fosse vista como um bem e mais valorizada. Com isso, o desperdício seria reduzido. “No Brasil a água custa em média R$ 2,67 o metro cúbico – para todos os tipos de consumidor. É muito barato, se considerarmos que em países como a Dinamarca a mesma quantidade custa em torno de R$ 9,00. A população deve ser conscientizada”, comenta. 

Ele conta que a conscientização da população foi uma das formas encontradas pelo governo da Califórnia, nos Estados Unidos, para reduzir o consumo de água quando passou por duas secas severas – em 1976 e depois em 1987. Depois da segunda, na década de 80, a cidade de São Francisco, localizada nesse estado, reduziu o consumo residencial de 223 litros gastos por pessoa em um dia para 185 litros. “Fizeram uma legislação com multas pesadas para a população que desperdiçava - especialmente em irrigação de jardim, lavagem de carro, piscinas e máquinas de uso doméstico – e distribuíram timers e dimers, dispositivos semelhantes aos usados para reduzir o consumo de energia”, conta. 

Oliveira acredita que, a exemplo da Califórnia, o Brasil poderia ir além da campanha de conscientização – iniciada recentemente – e usar o apoio da legislação. Poderiam ser criadas normativas para o reuso de água, além de exigirem que projetos de construção de novos empreendimentos já contenham sistemas de tratamento do esgoto e reciclagem de água, diminuindo o consumo das distribuidoras. Outra alternativa é a criação de um selo que certificasse equipamentos que usem a água de forma mais eficiente (chuveiros e lava-roupas, por exemplo) – como já é feito com equipamentos eletrônicos que gastam menos energia. 

Para Marussia Whately, coordenadora do movimento Aliança pela Água, 2014 foi um ano perdido no sentido de esclarecer a sociedade em como lidar com a escassez de água. “Se começássemos a pensar já no ano passado que a situação era grave e que poderia não só continuar como aumentar a gravidade em 2015, poderíamos ter avançado na regulamentação e na criação rápida de um mercado de água de reuso. Não temos uma política de reuso e não aproveitamos a crise para avançar na construção dessa política”, critica. 

De acordo com ela, as medidas emergenciais que estão sendo tomadas – como a retirada de água de locais cada vez mais distantes – não terão necessariamente resultados duradouros.  “Vão ser investidos grandes montantes de recursos com enormes impactos ambientais, mas não estamos construindo uma segurança hídrica”, reforça. “O problema existe e não vai sumir. O consumo aumentou e é preciso reduzir a demanda. Porque a agua que circula no planeta é sempre a mesma e não vai aumentar. Não conseguimos gerar mais, apenas conservar”, conclui Oliveira, da Unesp.

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