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05/05/2015Papel dos pais e da escola na educação digital dos jovens é tema de debate na FecomercioSP
Primeira parte do 1º Congresso de Educação Digital, realizado hoje na sede da Federação, teve também discussão sobre cyberbullying e dependência da internet
Educação digital no Brasil existe, é real e funciona? Escolas, faculdades e instituições de ensino em geral têm estrutura preparada para implementar e gerir o processo que envolve essa nova realidade, com novas redes e formas de interatividade? Foram essas as questões que abriram o 1º Congresso de Educação Digital, promovido hoje pelo Conselho de Tecnologia da Informação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) na sede da Entidade, em São Paulo.
O presidente do Conselho da Tecnologia da Informação da Federação, o especialista em Direito Digital, Renato Opice Blum, destacou como ponto relevante para discussão de que forma estão sendo feitas a gestão e a implementação pelas instituições de ensino de novas práticas educacionais, com disciplinas específicas de educação digital, conforme define o Marco Civil da Internet, lei aprovada em abril de 2014. "Será que não existe um desequilíbrio entre o comportamento das pessoas, a aplicação da lei e o atraso na gestão de tudo isso? As escolas brasileiras, apesar de identificarem que é um assunto sensível, estão atrasadas na gestão da interatividade entre alunos, pais e professores, bem como na forma como a educação digital é tratada, sem disciplinas específicas. É uma dificuldade global", disse.
Essa percepção foi constatada em pesquisa realizada pela FecomercioSP e apresentada no evento, com 400 instituições de ensino públicas e privadas. O resultado apontou que 95% das escolas afirmaram que debatem com seus alunos, de alguma forma, os conceitos de educação digital e 77% disseram que há interação virtual entre professores e alunos. Contudo, apenas 65% dessas escolas estipulam regras claras sobre essa relação virtual. "É um ponto crítico da pesquisa", destacou o vice-presidente do Conselho da Tecnologia da Informação da FecomercioSP. Outro ponto crítico é a falta de disciplina específica de educação digital na grade curricular em 95% das escolas entrevistadas.
A falta de preocupação dos jovens com a exposição nas redes sociais foi o alerta da CEO da Nethics Educação Digital, curadora do Congresso, Alessandra Borelli. Ela destacou que, apesar de hoje não existir mais privacidade, é importante que os jovens tenham a consciência dos riscos da superexposição e em restringir o núcleo de amizades. De acordo com a pesquisa, 42% deixam aberto para todos verem o que fazem nas redes sociais e 68% deles conheceram amigos pela internet. A especialista comentou, ainda, que, para os jovens, o ambiente virtual é visto como uma extensão do seu dia a dia.
A nova realidade da sociedade digital foi abordada pela escritora e palestrante de inovação e educação, Martha Gabriel, e pelo CTO da FlipSide, Anderson Ramos. Martha pontuou que hoje as mudanças ocorrem com muita velocidade e a tecnologia está mudando os modelos de negócios. "Para lidar com problemas inéditos, é preciso inovação e criatividade e a tecnologia é instrumento para operarmos essa criatividade", disse. Já Ramos ressaltou a melhor usabilidade proporcionada pela tecnologia como grande avanço recente, porém, agora, o entretenimento rivaliza com a educação. "Temos dificuldade hoje de engajar alunos em nova realidade", falou.
O uso de tecnologia para espalhar rumores visando danificar a reputação de alguém, divulgar informações e imagens, ameaçar e insultar caracteriza o cyberbullying, trazendo consequências danosas para a saúde mental de crianças e adolescentes, que se sentem rejeitados pelos seus pares. "Na violência digital, basta um ato com o potencial para se espalhar e ficar na rede por muito tempo, fazendo com que as consequências sejam até mais danosas do que o bullying tradicional. O aparente anonimato da internet é grande complicador, pois jovens acham que estarão impunes e podem praticar cyberbullying com os colegas", definiu a professora e fundadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev), Lucia Cavalcanti.
Dependência da internet
Como as mídias sociais podem afetar os jovens foi abordado pelo professor da Harvard School of Public Health, Michael Rich, e pelo fundador do site MiudosSegurosNa.Net, Tito Morais. Michael Rich destacou a dependência da internet, novo problema formalmente aceito como diagnóstico médico apenas na Coreia do Sul e na China. "Uma pesquisa que pediu para os adolescentes desligarem seus dispositivos por certo período resultou em adolescentes relatando que se sentiram mal ao ficar longe de seus dispositivos e da internet, com sintomas de abstinência", relatou.
Tito Morais comentou sobre as semelhanças entre brasileiros e portugueses quando se trata da dependência da internet. "Em torno de 12% de brasileiros e portugueses apresentam pelo menos um indicador de dependência da internet. Nos outros países europeus, esse índice chega a 15%", observou. Entre as soluções para evitar o desenvolvimento dessa dependência em crianças e adolescentes, os pais e educadores devem estabelecer regras para tempo de utilização desses dispositivos e definir atividades para a criança fazer antes de acessar a internet, e com outras atividades que não envolvam a rede.
Participaram ainda da primeira parte do evento o presidente da Safernet Brasil, Thiago Tavares; o procurador da República Guilherme Schelb; o presidente da Comissão de Direito Eletrônico e Crimes de Alta Tecnologia da OAB-SP, Coriolano Almeida Camargo; a médica e professora associada da FCM-Uerj, Evelyn Eisenstein; o psicólogo e coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Programa Integrado dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas de São Paulo, Cristiano Nabuco; e a coordenadora do Laboratório de Estudos em Ética nos Meios Eletrônicos (Leeme), Solange Barros.
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