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Editorial

Para atores de “Terrenal”, conexão entre mito bíblico e relações humanas atuais traz reação surpreendente do público

No espetáculo, a história clássica da briga entre Caim e Abel traz ao palco o momento em que um conflito parte de uma discussão para uma atitude extrema

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Para atores de “Terrenal”, conexão entre mito bíblico e relações humanas atuais traz reação surpreendente do público

"Terrenal" fica em cartaz até 25 de julho, todas às quintas-feiras, às 21h, no teatro da FecomercioSP
(Arte/Tutu)

Em cartaz no Teatro Raul Cortez, a comédia dramática Terrenal – pequeno mistério ácrata traz uma releitura da história bíblica dos irmãos Caim (Dagoberto Feliz) e Abel (Sergio Siviero) e tem como pano de fundo os grandes conflitos sociais e os dilemas sobre posse de terra, valor do trabalho, relações interpessoais e consequências das escolhas humanas. Os diálogos são construídos de forma a expor essa dualidade entre os irmãos, bem como os conflitos internos de cada um.

O ator Dagoberto Feliz explica os elementos que estão levando a uma resposta tão positiva da plateia. “O autor, Mauricio Kartun, faz uma provocação bem clara colocando Caim no lugar da prática produtiva e Abel em uma vida mais poética, diferente. Eu penso em como essas duas figuras se encontram. A partir disso, a trama tem uma força mítica muito boa, mas talvez a relação que o público faz com o mundo atualmente é o que provoca a reação tão intempestiva da plateia, e isso tem sido muito bom”, comenta.

O antagonismo e a rivalidade entre os irmãos se intensificam quando Tatita (Celso Frateschi) – a representação de Deus como pai dos dois – retorna após vários anos ausente.

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Para Feliz, essa presença traz um dos pontos mais sensibilizantes do texto: uma frase do Tatita que diz que o problema não é brigar, mas querer matar o outro. “A discussão é interessante, é boa; o ruim é criar uma imposição de ideias. O importante, e esse espetáculo demostra bem isso, é parar e conversar, entender em que ponto nós, opostos, nos encontramos e em quais não temos negociação. Essa é a brincadeira de Terrenal”, diz.

Já o ator Celso Frateschi diz que a forma como o Kartun apresenta o texto e o modo como Marco Antônio Rodrigues dirige o espetáculo acabam mesclando muito as relações interpessoais contemporâneas com uma narrativa que não é apenas divertida o tempo todo, mas que também não é somente séria – ou seja, um forte atrativo para o público.

“Esse texto diz muito para a atualidade, quando as relações são desmanchadas, quando a ambição fica em primeiro plano. Essa relação entre os irmãos, a questão da fraternidade, isso tudo me emociona muito”, comenta.

Ele explica que o sucesso da peça está em encontrar um sentido moderno para o mito bíblico clássico. “O mito só tem sentido se tiver alguma correspondência com o moderno, com o real, somente assim ele é relembrado. Representar esse mito, hoje, revela como ele está presente, mostra como essa relação entre irmãos, dos filhos com o pai, e também a relação de propriedade e dos problemas mais sociais são importantes”, avalia.

Ele conclui dizendo que a parte da apresentação que mais o sensibiliza é quando a figura de Deus, de Tatita, vira um pouco ator (e não só personagem), e proclama a condenação de Caim pela historicamente conhecida escolha que ele fez.

O espetáculo fica em cartaz até 25 de julho, todas às quintas-feiras, às 21h, no teatro da na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

A direção do espetáculo é de Marco Antônio Rodrigues, e Cecília Boal é responsável pela tradução do texto do dramaturgo argentino Mauricio Kartun, enquanto que a trilha sonora é executada por Demian Pinto. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou pelo site Ingresso Rápido.

Serviço
Terrenal – pequeno mistério ácrata
Temporada: de 6 de junho a 25 de julho.
Quintas-feiras, às 21h.
Teatro Raul Cortez – Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – Bela Vista, São Paulo (SP).

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