Economia
20/03/2025Por que as mulheres estão menos confiantes com a economia? Inflação e juros altos reduzem expectativas das paulistanas
Pesquisas da FecomercioSP revelam empresárias e consumidoras menos otimistas quanto aos negócios e ao consumo, cuja expectativas são as menores em quase uma década

A inflação, os juros elevados e a instabilidade econômica têm reduzido a confiança das consumidoras e empresárias paulistanas. Pesquisas da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) indicam que as empreendedoras estão mais cautelosas com investimentos, ao passo que, entre as consumidoras, a percepção da falta de políticas sólidas para lidar com esse cenário deve afetar o desempenho dos bens duráveis nos próximos meses.
Além disso, a inflação dos alimentos é um dos principais fatores de descontentamento das mulheres em geral, apesar das condições de emprego e renda atuais ainda serem avaliadas positivamente por elas. No entanto, a maior volatilidade do mercado de trabalho e a diferença salarial em comparação com os homens contribuem para uma menor confiança no consumo futuro.
As conclusões se baseiam em três índices da Entidade (todos com recortes específicos para mulheres): Confiança do Consumidor (ICC), Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) e Intenção de Consumo das Famílias (ICF). Os indicadores variam de 0 a 200 pontos, com valores mais baixos indicando pessimismo e os mais altos, otimismo.
Expectativas no nível mais baixo em quase 10 anos
Em fevereiro, a confiança das consumidoras paulistanas registrou a sétima (e mais intensa) queda consecutiva na comparação anual. O ICC recuou 11,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Embora o indicador tenha se mantido acima dos 100 pontos (121), indicando uma percepção ainda otimista, houve uma queda de 0,4% em comparação com janeiro.
A redução da confiança foi motivada principalmente pelas expectativas quanto ao futuro. O Índice de Expectativas dos Consumidores (IEC), variável que compõe o ICC, apresentou retração de 1,4% em relação a janeiro, atingindo 121,4 pontos em fevereiro, a menor pontuação desde maio de 2020. Na comparação anual, registrou a décima quinta queda consecutiva, com recuo de 17,1% — a maior retração desde setembro de 2015, quando o Brasil enfrentava a maior crise da sua história recente.
O Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA), outro subíndice do ICC, registrou uma leve alta de 1,1% em relação a janeiro (120,5 pontos), mas permanece 1,7% abaixo do registrado em fevereiro do ano passado. O subíndice apresentou recuperação ao longo de 2023 e no início de 2024, incentivado pela boa atuação do mercado de trabalho, pela inflação controlada e pela queda na taxa de juros. No entanto, esse cenário se reverteu no fim do ano passado e já começa a impactar o humor das consumidoras.
Empresárias seguram investimentos de olho na economia
O ICEC registrou 107,8 pontos em março. Além disso, a variável que obteve menor pontuação foi o Índice das Condições Atuais do Empresário do Comércio (ICAEC), que ficou abaixo dos 100 pontos e, portanto, no patamar do pessimismo, ao registrar 96,1 pontos. O resultado é reflexo direto da instabilidade econômica, da inflação e dos juros elevados, já que estes refletem nos custos das empresas. Para 48,2%, as condições atuais da economia pioraram muito.
Apesar da situação atual desfavorável, o Índice de Expectativa do Empresário do Comércio (IEEC), que também compõe o ICEC, registrou 125,8 pontos, refletindo a esperança delas por melhores condições do mercado e políticas econômicas mais favoráveis, além de possíveis incentivos ao consumo e estímulos ao crescimento do setor. Para 35,4%, a perspectiva com relação aos próprios negócios melhoraram.
O Índice de Investimento do Empresário do Comércio (IIEC), por sua vez, registrou 101,6 pontos. Dentre as entrevistadas, 58,6% afirmaram que pretendem aumentar pouco o quadro de funcionários, enquanto a intenção de investir é pequena para 35,9%, apontando precaução diante dos custos elevados e das incertezas no mercado. A maioria das empresárias (53,2%) afirma que seus estoques estão adequados, enquanto 45,9% afirmam estarem inadequados.
Consumo menor entre as mulheres
Em março, a intenção de consumo (ICF) das mulheres registrou quedas de 4,9%, em relação ao mesmo período do ano passado, e de 3,7%, em comparação com fevereiro, atingindo 106,9 pontos. O item Perspectiva Profissional cresceu 3,6% na comparação anual, chegando a 123,3 pontos. O resultado sugere que elas estão otimistas quanto à empregabilidade e à estabilidade financeira a longo prazo, a despeito dos impasses do cenário macroeconômico.
No entanto, os demais indicadores que compõem o índice registraram queda no mesmo comparativo: Perspectivas de Consumo (98,4 pontos), Acesso ao Crédito (96,3 pontos), Nível de Consumo Atual (80,5 pontos) e Momento para Duráveis (75,7 pontos) foram as variáveis que apresentaram resultados mais preocupantes, mantendo-se abaixo dos 100 pontos. No comparativo mensal, os subíndices também caíram.
Segundo a FecomercioSP, a recuperação da intenção de consumo das famílias dependerá da flexibilização da política monetária, do fortalecimento do mercado de trabalho e da estabilidade fiscal.
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