Editorial
27/09/2018Potencial para continuar insignificante, por Mariana Aldrigui
Presidente do Conselho de Turismo comenta que País fez muito pouco pelo setor e, por isso, colhe resultados tímidos
Segundo a presidente do Conselho de Turismo, a palavra mais utilizada para se referir ao setor no Brasil é potencial
(Arte/Tutu)
Por Mariana Aldrigui
Os países membros da ONU, em sua maioria filiados à Organização Mundial do Turismo (UNWTO), comemoram o Dia Mundial neste 27 de setembro. O tema da comemoração é Inovação e Transformação Digital, destacando a tecnologia (big data, inteligência artificial e plataformas digitais) como grandes aliados ao desenvolvimento sustentável da atividade.
Atuar para que os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sejam atingidos é premissa da UNWTO e de todos aqueles países que assinam os compromissos estabelecidos. Portanto, é também o caso do Brasil.
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Mas, observando a realidade brasileira e “tudo” o que se conquistou até hoje com a atividade de turismo, a conclusão é a de que se faz pouco ou nada, e com resultados muito tímidos. A palavra que mais se usa ao falar do turismo brasileiro é potencial. Há pelo menos 80 anos os documentos e discursos recorrem ao potencial – das belezas naturais, das praias, da cultura, da gastronomia –, e as ações efetivadas pelos diferentes governos não alteram em nada os resultados econômicos obtidos.
Em termos de políticas públicas, o Ministério do Turismo ousou muito pouco. Provavelmente pela falta de tempo de seus titulares — em 15 anos de existência, a pasta teve 13 ministros. O mais recente pode chegar, no máximo, a 9 meses no comando da pasta. O principal papel dos ministros recentes foi atuar como articulador de base para o governo.
Ao publicar documento sobre a atividade, lançam números e projeções sem fundamentação clara ou detalhamento de como, por exemplo, gerar 2 milhões de novos empregos ou ampliar a movimentação de passageiros no país.
Além de não ser uma área prioritária nas pautas dos governos (nem sequer dos candidatos), também foi alvo de cortes orçamentários drásticos – desde sua criação, perdeu mais de 90% de sua verba –, o que é mais um sinal do papel político da pasta. Sem verba, sem resultado. Desde 2003, o volume de turistas estrangeiros no Brasil está na casa dos 5 milhões. A partir de 2010, passa para 6 milhões, e aí permanece –independentemente dos gastos com a promoção internacional. Cabe destacar que todo o empenho da Embratur em 2016 e 2017 resultou em apenas 42 mil turistas a mais em relação ao ano anterior, o que evidencia que algo está muito errado.
Ainda assim, pessoas envolvidas com o setor seguem se dedicando e investindo tempo e dinheiro em algo que deveria ser analisado com mais cuidado e dirigido por profissionais competentes. O turismo doméstico, muitas vezes negligenciado, compreendeu mais de 92 milhões de desembarques/ano, e não há dados de quantas pessoas viajaram de carro para aproveitar seu tempo de lazer. A ocupação do setor hoteleiro cresce, e os resultados como do AirBnb surpreendem, indicando que há muito movimento de pessoas e dinheiro no país, e pouca compreensão efetiva do que isso significa de fato.
Há excelentes iniciativas que podem ser adaptadas – e nenhuma delas passa, por exemplo, pela privatização da Embratur, ou pela proibição de novos meios de hospedagem. Da revisão de impostos sobre a aviação e os cruzeiros marítimos, passando pela desoneração do setor hoteleiro, e ampliando as possibilidades de investimento estrangeiro por aqui, há muito por fazer.
Todas as atividades estratégicas para o desenvolvimento do Brasil podem (e devem) contemplar também o turismo, de modo a garantir que brasileiros e estrangeiros se sintam seguros ao viajar pelo país, realizando negócios, participando de eventos, aproveitando tudo o que temos de bom a oferecer. Só não adianta repetir o que vem sendo feito.
*Mariana Aldrigui é Presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S. Paulo em 27 de setembro de 2018.
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