Sustentabilidade
31/05/2011Projeto sobre frutos exóticos do cerrado leva professor a vencer 2º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade
Marcio de Andrade Batista foi premiado na categoria Academia - Professor
Frutos exóticos da região do cerrado brasileiro transformando-se em uma alimentação saudável, pouco calórica e altamente nutritiva, sem contraindicação. Esse é o coração do projeto “Nativa Frutos”, do acadêmico Marcio de Andrade Batista, da Universidade Federal de Mato Grosso, mestre em química e vencedor da categoria Professores do “2º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade”. O cerrado é reconhecido como a savana mais rica do mundo em diversidade. Sua flora tem mais de 10 mil espécies e o território se estende por 25% do total de terras brasileiras, com cerca de 200 milhões de hectares, englobando 12 Estados.
Entretanto, esse formidável bioma está ameaçado pela monocultura da soja e pela pecuária. Hoje, calcula-se que apenas 20% das áreas originais permaneça preservada. O projeto pretende reverter esse cenário ao criar uma nova e atrativa fonte de renda para a região: o cultivo de forma sustentável, para beneficiamento em ração humana, dos frutos nativos, como baru, mangaba e tataruba, aumentando seu valor agregado.
“Pelos levantamentos feitos, sabemos que o produtor rural pode ganhar duas vezes mais por hectare se cultivar os frutos ao invés de criar gado”, informa o professor Batista. O projeto também tem um forte viés social. Pequenos agricultores e indígenas serão estimulados a aderirem à Nativa Frutos, elevando os indicadores de emprego e renda no Mato Grosso, e todos receberão treinamento e apoio técnico necessário e terão sua produção comprada pela unidade processadora da ração humana, a ser instalada em Barra do Garças (MT).
Pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp) e da Universidade Católica de Goiás (UCG) realizam estudos sobre as propriedades dos frutos da região. Apenas para se ter uma ideia: a casca e sementes do pequi e araticum apresentam altas concentrações de antioxidantes, que combatem o envelhecimento. O guaru, por sua vez, equivale a um bife, com 23% de proteína. “Vamos sensibilizar os fazendeiros a dedicar parte de suas terras para o plantio desses frutos. Assim, conseguiremos a preservação ambiental, um produto rico em nutrientes e ainda ter lucro, preceitos da economia sustentável”, enfatiza o autor do projeto.
A fabricação da ração será realizada em parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso e com o grupo de pesquisa em Engenharia de Alimentos. Outros apoiadores do projeto, não menos importantes para sua implantação, são a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), a Fundação Nacional do Índio (Funai) , o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Prefeitura de Campinápolis (MT).
O produto tem apelo no mercado da alimentação natural e saudável. Esse nicho de alimentos funcionais está aquecido, vem crescendo cerca de 10% ao ano, três vezes mais do que o de alimentos tradicionais, segundo recente levantamento divulgado pela revista Exame. Apenas nos Estados Unidos movimenta aproximadamente US$ 15 bilhões por ano. Os planos da nova empresa são abastecer os mercados de Mato Grosso, Goiás e São Paulo, em uma primeira etapa.
Um dos diferenciais do produto é a sua composição físico-química. A concorrência utiliza somente grãos e cereais integrais na ração humana, enquanto esse terá os frutos nativos na fórmula. A ração será comercializada com peso médio de 500g e custo unitário de R$ 10. Em um cenário pessimista, a capacidade de produção dos frutos será de 420 kg/mês, cerca de 14% do mercado da região. A expectativa é aumentar a produção em 16% ao ano, podendo chegar a 1.000 kg/mês. O projeto da fábrica de ração humana apresenta, segundo seu autor, uma rentabilidade maior do que a taxa mínima de atratividade (12% ao ano).
Sua operação requer investimentos de R$ 500 mil, que estão sendo prospectados em linhas de financiamento de agentes financeiros públicos e privados. Futuramente, a ração humana de baru será convertida em barra de cereais, usando técnicas de engenharia de alimentos. Esse novo produto terá foco no público infantil, com o atrativo do sabor adocicado da fruta. “Os frutos do cerrado têm uma potencialidade imensa da aplicação alimentícia e de cosmética”, lembra Batista. Um negócio sustentável de futuro.
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