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22/01/2024Recorde da balança comercial em 2023 esconde dilemas estruturais da economia brasileira
Superávit de US$ 99 bilhões também foi influenciado por queda nas importações
Embora o saldo recorde da balança comercial no ano passado, de US$ 99 bilhões, seja um número a ser comemorado, uma análise mais criteriosa sobre o papel do Brasil no jogo internacional revela ajustes necessários para que resultados como esse permaneçam no horizonte futuro do País. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) se debruçou sobre os dados e encontrou pontos relevantes nesse sentido.
Vale lembrar, antes de qualquer coisa, que o Brasil ainda tem uma participação muito pequena no mercado internacional, de apenas 1,5% na corrente de comércio do mundo, revelando algumas distorções, já que o País é a nona maior economia do mundo em termos de Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas ocupa a 26ª posição no ranking de maiores exportadores.
O primeiro ponto é que, mais do que o crescimento de receitas de exportações (1,5%), o saldo recorde aconteceu porque houve uma queda grande no volume de importações, que chegou perto de 12% na comparação com 2022 [gráfico 1]. Em outras palavras, a economia brasileira se manteve relativamente fechada em 2023 — e, não à toa, a corrente de comércio, que é a soma de exportações e importações, caiu 4% em relação ao ano anterior.
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Na perspectiva da FecomercioSP, esse não é um resultado plenamente positivo, porque significa que o País perdeu espaço no comércio internacional. Facilitar as importações permite, principalmente, que as empresas tenham acesso a insumos mais baratos e de maior conteúdo tecnológico, além de gerar ganhos de produtividade e aumentar a competitividade das nossas exportações, propiciando o bem-estar dos consumidores e contribuindo para a desaceleração inflacionária.
A explicação para esses dados está, sobretudo, no fato de o Brasil ser um país fechado, cujo modelo de participação no jogo comercial global é de escalada tarifária, que consiste no aumento das tarifas de importação conforme o avanço no estágio de produção. A mudança dessa política protecionista para uma maior abertura comercial é uma das bandeiras da Entidade há anos.
Ainda sobre os dados da balança comercial, é importante notar que uma queda (ou um aumento) nas exportações (ou nas importações) pode decorrer de variações na quantidade (ou quantum, no conceito econômico) ou dos preços. Em 2023, o quantum de exportações subiu 8,7%, enquanto o de importações caiu 2,6% [gráfico 2]. Isso indica que os brasileiros, provavelmente, tiveram menos condições, em termos de rendimentos, para comprar produtos ou serviços do exterior — seja porque os recursos estavam mais escassos, seja porque a alta do dólar forçou a troca por itens nacionais.
Já quando se analisam os preços da corrente de comércio brasileira, os números são ainda mais preocupantes. De um lado, embora tenha exportado mais, o montante recebido com essas vendas caiu 6,3% em 2023, uma queda iniciada no primeiro semestre de 2022 [gráfico 3]. Isto é: o saldo poderia ter sido ainda maior se os preços estivessem mais altos.
As importações, por sua vez, sofreram uma redução de 8,8%, impactadas por diversos aspectos do mercado global, o que não é necessariamente uma notícia ruim, já que custos mais baixos também têm o papel de manter a inflação em um ritmo menos acelerado.
DEMANDA CHINESA
Outro dilema da balança comercial brasileira em 2023 foi o aumento da participação da China como principal destino das exportações do País. É significativo que, em dez anos, as exportações para o gigante asiático cresceram cinco vezes, enquanto os outros dois grandes receptores de produtos brasileiros, o Mercosul e os Estados Unidos, seguiram em patamares parecidos durante esse período.
Para o Brasil, se por um lado, o bom trânsito com o país asiático faz com que a balança comercial feche sempre no positivo, por outro, a dependência cada vez mais forte da demanda daquele país deve ser vista como sinal de alerta para o futuro, já que qualquer mudança estrutural na economia chinesa teria efeitos significativos na presença brasileira no mercado global. Isso vale, como também já explorado, para a concentração excessiva de três commodities no grosso das exportações: quase um quarto (38%) de tudo o que o Brasil vende para o exterior é soja, petróleo ou minério de ferro.
Como lidar com esses números olhando para o futuro? Para a FecomercioSP, é fundamental abrir a economia brasileira ao mundo, mudando a lógica do protecionismo tarifário nas importações para que, com isso, o País tenha acesso, com mais facilidade, a recursos, produtos e serviços de fora. Sem contar que uma mudança nessa direção aumentaria a produtividade e a competitividade brasileiras, beneficiando tanto consumidores quanto empresas.
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