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Negócios

Regulamentação do Marco Civil definirá como escolas devem implementar ensino de educação digital

1º Congresso de Educação Digital, promovido pela FecomercioSP, debateu o assunto e temas como controle parental, acessibilidade e sexualidade na internet

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Regulamentação do Marco Civil definirá como escolas devem implementar ensino de educação digital

O Marco Civil da Internet, Lei aprovada e sancionada no ano passado e já em vigor, define que as instituições de ensino em todos os níveis deverão inserir o ensino de Educação Digital – o que inclui o uso responsável e consciente da internet – na sua grade curricular. Contudo, ainda falta a regulamentação desse ponto, para definir de que forma as instituições deverão implementar esse ensino. Mas vale lembrar que as escolas não são as únicas responsáveis pela educação de crianças, adolescentes e jovens. “Os pais são responsáveis civilmente por filhos menores de idade. Temos que nos preocupar com a educação dos filhos em qualquer ambiente, inclusive o digital. A consequência para os pais da ausência dessa educação é serem responsabilizados pelas atitudes dos seus filhos”, considerou Rony Vainzof, vice-presidente do Conselho de Tecnologia da Informação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) na conclusão do 1º Congresso de Educação Digital, promovido nesta terça-feira (05) pela Entidade.

“Pais e professores têm que romper paradigmas de que são analógicos e não conseguem contribuir para educação digital dos filhos”, acrescentou a CEO da Nethics, curadora do evento, Alessandra Borelli. Uma forma de os pais ampliarem a participação na educação dos filhos e evitarem que estes sejam vítimas ou causem problemas no ambiente virtual é por meio do controle parental. Esta é uma importante ferramenta para auxiliar os pais no monitoramento do que os filhos fazem na internet, inclusive por meio do bloqueio ao acesso de conteúdo que eles consideram inadequado. “Tudo hoje em dia é ‘smart’ e tem acesso à internet: de celulares a TVs. Por isso os pais precisam ter essa preocupação para proteger seus filhos. Não dá para só bloquear o conteúdo. Quando configuramos para que determinado conteúdo não seja acessado e há uma tentativa de acesso, a ferramenta envia um alerta para os pais. O ideal é que os pais perguntem o porquê eles tentaram acessar tal conteúdo e aproveitem para conversar com eles”, indicou Alexandre Martinez, presidente da ETEK.

Uso da internet

O tempo médio mais adequado de uso da internet pelos adolescentes, que hoje gira em torno de 4 horas diárias, segundo os jovens presentes no painel, foi uma questão levantada. Para especialistas, depende de como a rede é utilizada nesse período. De acordo com o psiquiatra Daniel Spritzer, “se for para estudo, os pais acharão que é bastante tempo e bem gasto. Se for ouvindo música, pensarão que é perda de tempo. Mas na adolescência e na infância existem ainda as questões evolutivas, como o tempo que elas precisam para brincar e para lazer. Tempo é um importante marcador, mas mais indireto”, disse. Além disso, a internet é um reflexo da sociedade e as pessoas vão usá-la de acordo com sua herança familiar. “Em alguns anos, crianças estarão conectadas 12 horas por dia. Será muito? Quem pode dizer isso? Psiquiatras, psicólogos, educadores? Ninguém melhor do que os próprios pais. O que é pior, ter tempo restrito, mas fazer o que quiser na internet ou acessar por mais tempo, mas com conhecimento dos pais do que está fazendo?”, indagou o psicólogo Alberto Nery. Segundo os especialistas, a criança deve ser ensinada a pensar nas consequências do que faz para que não caia na armadilha de postar algo que, no futuro, se volte contra ela mesma.

Sobre o uso da internet por crianças, Alexandre Barbosa, gerente do CETIC.br comentou sobre a pesquisa Kids Online, que ocorre há 3 anos em 27 países (incluindo o Brasil), que apontou que há diferenças na utilização da rede de acordo com classe social e local onde mora, mas todos têm em comum o uso de redes sociais. “Na análise da mediação deste uso pelos pais, vemos que na Europa, mais de 90% dos pais são usuários de internet. Já no Brasil, 50% dos pais brasileiros de filhos que usam internet não são usuários. Como pais que não usam internet podem mediar o uso dessa tecnologia pelos filhos?”, observou.

Fernando Neves, presidente da AirTight no Brasil, questionou a efetividade de escolas proibirem o uso da tecnologia pelos alunos, como smartphones e tablets. “Quando proibimos algo em um processo de educação, gera um atrativo que não tinha antes. Além disso, o convívio com a tecnologia é uma realidade. Vamos privar a escola de vantagens que a tecnologia pode trazer ou vamos tentar integrar dispositivos ao ambiente escolar? Como conteúdos podem ser interativos e trazer valor para aprendizagem?”, pontuou. Na avaliação do professor e pesquisador de tecnologias digitais José Manuel Moran, “conteúdos são importantes, mas a escola e os professores precisam trabalhar em desafios, incentivos, ver o que é mais importante para cada aluno e a partir daí trabalhar conteúdo com o aluno”. 

Inclusão e sexualidade na geração digital

“Usar a tecnologia como meio para ensinar todos os assuntos que fazem parte do currículo escolar é vantajoso, mas não basta sermos de vanguarda e usar essas tecnologias se elas não são acessíveis para todos”, avaliou o secretário adjunto da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, Cid Torquato, destacando que no Brasil apenas 5% dos sites públicos são plenamente acessíveis. O painel moderado por Torquato teve exemplos de projetos bem-sucedidos nesse quesito, como a Escola Virtual de Programas Educacionais (EVESP), do governo paulista, que oferece cursos de inglês, libras, pré-vestibular e robótica acessíveis para todos públicos, e o projeto Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais (GENTE), que tem como proposta pensar em novas tecnologias como novas formas de ensinar e não só no desenvolvimento de máquinas.

O tabu do “sexo virtual”, seus riscos e impactos na vida real foram abordados pelo psicólogo e professor da PUC-SP Denis Ferreira e pela escritora Fabiana Bertotti. “A internet gerou um ganho significativo nos relacionamentos à distância, mas se as pessoas não souberem administrar o tempo na rede, podem afastar quem está próximo”, disse Denis. Ele destacou a conveniência da relação sexual virtual, mas se não administrada, pode virar um vício. “A internet te proporciona realizar fantasias que na vida real a pessoa não tem e isso pode gerar problemas na vida real”, observou. Na mesma linha, Fabiana destacou que hoje o jovem aprende sobre sexo de maneira deturpada, por meio de material pornográfico que encontra na internet, que muitas vezes é diferente do sexo na vida real.

Participaram ainda dos debates no período da tarde o diretor da Microsoft Djalma Andrade; o promotor do Ministério Público do Estado de São Paulo Antonio Carlos Ozório Nunes; a doutora em Tecnologia Educacional Cristiana Mattos; o desembargador José Renato Nalini; e o psicoterapeuta e especialista em psicologia educacional Leo Fraiman. 

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