Economia
15/03/2022Rússia × Ucrânia: FecomercioSP debate os riscos da guerra para a economia e a segurança mundial
Conselhos da Federação recebem especialistas para tratar do impacto e da efetividade das sanções econômicas à Rússia, além dos efeitos de uma recessão russa sobre outros países
"Diplomacia e política chegaram a um nível baixíssimo de utilidade para o governo russo", ponderou Paulo Delgado, copresidente do CEEP
(Arte: TUTU)
As sanções impostas à Rússia, até agora – bem como outras que virão –, podem piorar um cenário de inflação que já estava em alta no mundo todo. Isso levará vários países a adotar políticas monetárias mais restritivas, com consequentes reflexos nos níveis de atividade, ocasionando, ainda, a revisão do crescimento da economia global. Os impactos do conflito bélico entre Rússia e Ucrânia foram tema de reunião realizada, na última quarta-feira (9), pelo Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP) e pelo Conselho de Relações Internacionais, ambos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
“Em especial na Rússia, estas sanções poderão ocasionar uma desorganização da economia, com uma profunda recessão. Possivelmente, estará mais difícil para aquele país honrar seus compromissos externos, podendo, inclusive, ter moratória. No Brasil, isso representa um choque inflacionário em um ambiente de custos muito elevados. Além do aumento direto dos preços das commodities, a redução da oferta de fertilizantes irá pressionar os custos do nosso agronegócio”, destacou Antonio Lanzana, copresidente do CEEP.
Ao longo de décadas, a FecomercioSP sempre esteve atenta às transformações globais de qualquer natureza, as quais impactam os ambientes de negócios nacional e internacional. Rubens Medrano, presidente do Conselho de Relações Internacionais, acentuou que “não bastassem os efeitos devastadores de uma pandemia, estamos vivenciando, agora, os impactos e as consequências de uma guerra que envolve uma série de questões de ordens geopolítica, econômica, social e humanitária – e cujo poder está no centro da mesa de debates.” De acordo com Medrano, um problema urgente que surge do conflito é a segurança alimentar, tendo em vista que a Rússia e a Ucrânia respondem por 30% do fornecimento mundial de trigo, além de insumos defensivos essenciais para a produção de soja no Brasil.
Confira alguns destaques da reunião Rússia × Ucrânia: Impactos para o Brasil. Acesse o Fecomercio Lab para assistir na íntegra!
Consequência imediata para o mundo
Marcos de Callis, diretor de Investimentos da Ventura Holding, comentou que, neste momento, deve-se esperar reações muito distintas de bancos centrais em todo o mundo, com efeito líquido de aumento dos juros nos Estados Unidos e na Europa e risco potencial de recessão mundial. De todo modo, neste momento, o risco maior é de estagnação econômica com inflação.
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Em relação ao choque de commodities, Callis enfatizou que não há, ainda, nenhum indicativo de que Vladimir Putin (presidente da Rússia) reduza a oferta russa de petróleo no mercado, mas deve haver um rearranjo entre compradores. “A Europa já deu sinal de que não deixará de comprar petróleo. Todas as sanções foram desenhadas para que, de fato, se mantenha as aquisições de gás e petróleo da Rússia. Provavelmente, a sanção sobre a produção naquele país será marginal, com realocação para quem queira comprar, com desconto, a parcela antes vendida para os Estados Unidos, como a China ou a Índia.”
Diplomacia em segundo plano
Paulo Delgado, copresidente do CEEP, ponderou que a diplomacia e a política chegaram a um nível baixíssimo de utilidade para o governo russo, de forma que Putin deixe ambos os fatores em segundo plano e, ainda, teste a desfuncionalidade da política, com aposta alta na guerra para a resolução dos problemas regionais. “Putin, ao que parece, toma decisões que demostram desinteresse por questões econômicas, culturais e comerciais, abraçando o militarismo como Alta Política”, sinalizou.
Resposta às sanções
Thiago de Aragão, diretor de Estratégia da Arko Advice, alertou que as métricas de compensação e punição no Ocidente tendem a ser financeiras e econômicas, mas não se encaixam à Rússia, um país com características de nacionalidade muito presentes no povo.
“Putin representa um grupo ligado a força, orgulho e poder. Quando se iniciou um processo de sanções contra a Rússia, a expectativa do impacto sobre o processo de tomada de decisões de Putin acabou sendo equivocada. Existia a expectativa de que ele agiria conforme um líder do Ocidente na mesma situação. Os Estados Unidos imaginaram que, gerando uma cascata de sanções, teria como resposta imediata uma retirada das forças russas da Ucrânia, visando a evitar novas perdas econômicas. A lógica de Putin não funciona desta forma”, ponderou.
Participaram da reunião
Paulo Delgado, copresidente do CEEP
Antonio Lanzana, copresidente do CEEP
Rubens Medrano, presidente do Conselho de Relações Internacionais
Jaime Spitzcovsky, jornalista de política internacional, colunista da Folha de S.Paulo e entrevistador do Canal UM BRASIL – uma realização da FecomercioSP
Marcos de Callis, diretor de Investimentos da Ventura Holding e membro do CEEP
Bernardo Ivo Cruz, pesquisador do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa(IEP-UCP).
Thiago de Aragão, diretor de Estratégia da Arko Advice
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