Economia
16/10/2018Saturada de informação, sociedade tem medo; populismo se nutre disso e ganha força por meio das mídias sociais
Em entrevista ao UM BRASIL, filósofo Luiz Felipe Pondé afirma que mídias sociais têm vocação populista e discute democracia no País e no mundo
"Mídias sociais têm vocação populista", aponta o filósofo Luiz Felipe Pondé
(Foto: Christian Parente)
O populismo encontra meios de fortalecer seu discurso por meio das mídias sociais. Elas permitem a conexão, interação e compartilhamento de conteúdo e são os meios pelos quais inúmeras pessoas se informam na atualidade. Em entrevista ao UM BRASIL, realizada em parceria com a Expert XP, o filósofo e pós-doutor em Epistemologia Luiz Felipe Pondé fala sobre o tema.
“O populismo aparece como alguém que diz falar em nome do povo para resgatar a democracia das mãos das elites e tem um reforço significativo na presença das mídias sociais, que têm uma vocação populista porque dá voz a todos. E, embora as pessoas vivam situações de impasses [problemas profissionais, financeiros, amorosos, fracassos], elas tendem a achar que a administração política de um País é mais simples. A vida das pessoas fica no ‘cinza’, mas elas têm a ilusão de que, no governo, vai ser ‘preto no branco’ e que existe alguém capaz de fazer isso”, explica.
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Segundo ele, o populismo é uma “espécie de falha cognitiva”. “A política e a democracia exigem muita cognição. É muita informação, muito dado, muita pós-verdade. E, nesse universo de demanda cognitiva gigantesca, muita gente projeta uma expectativa de simplicidade mesmo que ela tenha na vida dela uma experiência de não simplicidade”, reforça.
Na conversa, o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) aponta que o populismo se nutre e se aproveita do temor das pessoas. “O medo é um dos sentimentos mais presentes na nossa vida hoje. As pessoas têm medo porque há informação demais. E toda mente saturada de informação corre o risco de virar paranóica. O paranóico é aquele que acha que tudo faz sentido. O são é aquele que sabe que algumas coisas da vida não fazem sentido. O excesso de informação, a acessibilidade à informação, as transformações, a dificuldade de saber como será daqui a 50 anos, tudo isso gera temor”.
Do ponto de vista histórico, Pondé relembra uma questão que aparecer várias vezes nas tragédias gregas: estamos submetidos ao destino ou somos capazes de formar nosso próprio destino? “Transportando para cá, estamos nos fazendo essa mesma pergunta, mas não acho que a democracia brasileira esteja em perigo mais do que outras. Existe no Brasil um risco de populismo como com Trump nos Estados Unidos e com Jeremy Corbyn no Reino Unido, com candidatos que oferecem soluções simplistas para problemas complexos”, resume.
Ele fala da crescente polarização e cita nas mídias sociais o aparecimento de uma voz de parte da população com discursos violentos e racistas, mas não dissocia o Brasil do resto do mundo. “A democracia brasileira está em um momento delicado assim como várias no mundo estão”, conclui.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
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