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Sustentabilidade

Sem agrotóxicos, alimentos orgânicos ganham cada vez mais adeptos

Processo produtivo deve seguir o uso responsável do solo, da água, do ar e respeitar as relações sociais e culturais

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Sem agrotóxicos, alimentos orgânicos ganham cada vez mais adeptos

Por Jamille Niero

Há sete meses, a fisioterapeuta Vivian Colla mudou sua alimentação. Trocou boa parte dos alimentos convencionais pelos orgânicos. Na maioria, frutas e legumes, mas achocolatado, açúcar, bolachas e chás também passaram a ser consumidos por ela na versão orgânica. 

A troca foi motivada quando Vivian descobriu que desenvolvera intolerância à lactose e, com ela, a síndrome do intestino irritável (SII), na qual os alimentos que consome podem prejudicar o funcionamento gastrointestinal. De acordo com ela, a mudança trouxe bons resultados. “A digestão é melhor, os alimentos parecem mais ‘leves’ e tenho menos efeitos colaterais em relação à síndrome. Além disso, passei a ter uma alimentação mais regrada e, em consequência,  mais saudável. Parei de ter vontade de ‘tranqueira’ e passei a comer o que realmente o corpo precisa”, comenta.

Segundo Patrícia Villas-Bôas de Andrade, nutricionista e professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis, um dos principais benefícios dos alimentos orgânicos para o organismo é a ausência de produtos químicos. “As quantidades de antioxidantes e outros nutrientes são maiores. Estudos têm demonstrado que os resíduos de agrotóxicos que permanecem nos alimentos podem provocar reações alérgicas, respiratórias, distúrbios hormonais, doenças neurológicas e câncer”, diz. Além disso, nos orgânicos há a preservação do sabor original do alimento. A maior quantidade de antioxidantes e polifenóis presentes auxilia ainda na prevenção de doenças cardiovasculares e crônico-degenerativas, como o câncer. 

Na agricultura orgânica, não é permitido o uso de substâncias que coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente. Não são utilizados fertilizantes sintéticos solúveis, agrotóxicos e transgênicos. Para ser considerado orgânico, o processo produtivo deve seguir os princípios agroecológicos que contemplam o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais. Precisa ainda ser cadastrado no Ministério da Agricultura. É todo um processo que acaba tornando o custo final para o consumidor por vezes mais caro do que o alimento convencional. 

Produção
Tem crescido o número de produtores brasileiros de alimentos orgânicos. De acordo com o Ministério da Agricultura, entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, o número de agricultores que optou pela produção orgânica passou de 6.719 para 10.194, um aumento de 51,7%. A área total de produção orgânica no Brasil já chega a quase 750 mil hectares. O número ainda é pequeno se comparado com a agricultura convencional. Para se ter uma ideia, apenas a produção convencional de grãos, frutas e legumes ultrapassou os 71 milhões de hectares em 2014, segundo dados do IBGE. 

A professora de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ingrid Bergman Inchausti de Barros destaca que essa produção poderia ser ainda maior. Existem, contudo, alguns entraves que dificultam a ampliação da oferta. “O mais sério é a insuficiência de sementes e mudas orgânicas, o que limita a cadeia de produção”, diz Ingrid.

Outro empecilho é a comprovação de produto orgânico. Para fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, é necessário ser certificado por um dos três mecanismos disponíveis: certificação por auditoria (feito por certificadora pública ou privada a um custo), sistema participativo de garantia (sistema coletivo que pode reunir produtores ou consumidores, por exemplo) e controle social na venda direta (válido para agricultura familiar e aplicado na venda direta ao consumidor). Apenas nos dois primeiros casos há um selo de certificação. A dificuldade para os pequenos agricultores está aí. “Para ter o selo, o produtor tem que ser certificado e esse processo é pago e, muitas vezes, caro. Acaba restringindo o acesso para os pequenos agricultores”, observa a professora de Agronomia. 

Ela diz, no entanto, que este cenário tem mudado aos poucos. O consumo de alimentos orgânicos é um movimento que começou pela elite, mas que está se espalhando. Programas de gastronomia na TV e chefs badalados têm ajudado na divulgação dos benefícios dos alimentos orgânicos ao comentaram sobre eles. Ao verem na mídia, os consumidores ficam curiosos e procuram saber mais. Os que já conhecem a alimentação orgânica estão criando associações de consumidores que se reúnem para compras coletivas e para visitar as propriedades que produzem alimentos orgânicos, valorizando ainda mais o produto ao ver seu cultivo.

Apesar do aumento na demanda, aponta Ingrid, o alimento orgânico ainda precisa ser desmistificado. Ao entender como funciona a produção do orgânico na comparação com a produção convencional, a população poderá fazer sua escolha com mais propriedade. “Consumidor bem esclarecido pode ajudar no aumento da demanda, dos recursos destinados à produção e no desenvolvimento de politicas públicas que envolvam os orgânicos”, conclui. 

Ações e projetos que estimulem a prática da sustentabilidade, como a agricultura orgânica, podem concorrer ao 5º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade. Confira o regulamento e faça a inscrição aqui

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