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Editorial

Será o fim dos chefes?, por José Pastore

Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP comenta as constantes demissões de gerentes e supervisores

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Será o fim dos chefes?, por José Pastore

Redução dos investimentos e o declínio da economia brasileira somam-se ao impacto das novas tecnologias nos cargos de chefia
(Arte: TUTU)

Por José Pastore

Reportagens veiculadas na imprensa no mês passado apresentaram dados mostrando que os chefes estão sendo atingidos pelo desemprego de modo muito mais forte do que os demais empregados. Apesar de o Brasil ter gerado quase 400 mil empregos em 2018, só no primeiro semestre deste ano foram demitidos 80 mil gestores que se somaram aos 90 mil dispensados no mesmo período em 2017. Os mais atingidos foram os gerentes e supervisores que desfrutam salários mais altos. A reportagem indicada acena com possíveis causas: (1) empresas passaram as responsabilidades dos chefes para subordinados (juniorização das chefias); (2) outras colocaram mais empregados sob o comando do mesmo gestor; (3) há as que contrataram PJs no lugar de chefes empregados. É possível que todas essas forças tenham operado na referida onda de demissões. Não se pode esquecer, porém, a drástica redução dos investimentos e o declínio da atividade econômica que atingem o Brasil há vários anos.

Mas há um fator de grande importância que ficou ausente nas análises apresentadas. Trata-se do impacto das novas tecnologias e dos novos tipos de negócios sobre os cargos de chefia. Robôs, inteligência artificial, impressão 3D e outras inovações têm diminuído a necessidade de chefes. O comércio eletrônico, por exemplo, vem eliminando empregados das lojas físicas. Alguns vendedores são deslocados para a logística do novo comércio. Grande parte dos chefes que administravam estoques, compras, marketing, contabilidade etc. foi substituída por automação. O mesmo ocorreu com gestores que, até pouco tempo, cuidavam de recrutamento e avaliação de pessoal, do almoxarifado, do gerenciamento de escritórios de advocacia, engenharia, medicina, contabilidade etc. Os exemplos são incontáveis.

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Os estudos mais recentes indicam que as novas tecnologias provocam desigualdade na medida em que afetam muitas profissões do meio da pirâmide ocupacional (Ryan Avent, The wealth ofhumans, London: Penguim Randon House, 2016). Sim, porque no topo cresce a demanda por pessoas criativas, altamente especializadas e que dominam uma gama ampla de conhecimentos, inclusive, no campo psicossocial e emocional para exercer liderança. Na base, estão os profissionais cujas atividades (ainda) não podem ser realizadas por robôs: zeladores, faxineiros, enfermeiros, garçons, seguranças, cuidadores de idosos, sem falar nos artistas.

As implicações dessas mudanças para a estabilidade social são expressivas e preocupantes e afetam o comportamento político dos cidadãos de classe média que, de repente, se sentem impotentes ao constatarem que possuem habilidades que não servem mais. Nem todos conseguem fugir das profissões invadidas e destruídas pelas inovações e se deslocarem com sucesso para atividades que exigem conhecimentos que eles não possuem. O sistema educacional convencional não dá conta de promover esse ajuste em vista da sua natural lentidão para mudar currículos e retreinar professores. O que será do futuro, então as esperanças reacendem com a expansão dos cursos on-line de alta velocidade e que podem promover o ajuste das pessoas às novas tecnologias.

Sites, como o edX, Coursera, Udacity, Khan Accidemy, Open2Study, Veduca, Futureleam, MOOC (massive open on line courses), etc., oferecem milhares de treinamentos rápidos sobre as mais variadas inovações e tipos de negócios. Eles são ministrados para salas de aula com milhares de alunos, muitos deles, gratuitos. Em outras palavras, a própria revolução tecnológica começa a oferecer soluções para ajudar os seres humanos a se transformarem. É claro, nada é receita de bolo. Isso exigirá novas formas de apreender e uma boa base de educação geral. Mas, no momento, é o que se visualiza para preparar as pessoas para as gigantescas mudanças profissionais que vão se acentuar cada vez mais daqui para frente. Por meio delas, as pessoas que perdem empregos poderão adquirir novo trabalho.

*José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense em 3 de agosto de 2018.

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