Negócios
19/03/2018Setor atacadista madeireiro luta para superar reflexos da crise e voltar a crescer
Desaquecimento da construção civil e forte concorrência têm prejudicado o segmento nos últimos anos
O atacadista desse setor lida com três tipos de concorrência, sendo a primeira, do próprio fabricante
(Arte: TUTU)
O setor atacadista madeireiro tem lutado para sobreviver nos últimos anos. Isso porque a crise econômica iniciada em 2014 e que atingiu o setor da construção civil, seu principal consumidor, fez com que as vendas, que já não estavam boas, despencassem, levando o setor a uma crise jamais vista.
Balanço da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostra que o setor registrou queda de 6% em 2017. Desde o início da crise, a retração já acumula 22%. Os últimos anos também foram marcados pelo encolhimento de grandes construtoras brasileiras, sendo que algumas estiveram presentes em casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato.
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“Nosso volume de vendas está muito relacionado ao crescimento do setor da construção civil, e quando esse setor sofre uma crise como essa, o nosso segmento para também. Os anos de 2014 a 2016 foram péssimos, levando inúmeras empresas do setor a encerrar suas atividades, algumas destas com mais de 30 anos no mercado”, diz o presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Madeiras do Estado de São Paulo (Sindimasp), Rafik Hussein Saab.
Apesar dos dados nada animadores, um sinal de melhora no último trimestre da economia brasileira dá esperanças de que, neste ano, as coisas sejam melhores. Indicadores de confiança do consumidor e dos empresários produzidos pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) apontam sinais positivos em relação às taxas de emprego, à produção nacional e ao consumo das famílias.
Por dois anos seguidos, o Produto Interno Bruto (PIB) do País registrou quedas – de 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Entidade estima que, em 2018, o País cresça em torno de 3%. “Houve um certo aquecimento e isso animou um pouco o setor, mas ainda há dúvida sobre a questão política”, ressalta Saab.
Concorrência
O atacadista lida com três tipos de concorrência: a primeira, do próprio fabricante, que atravessa a ordem natural das coisas e acaba vendendo direto para a construção civil. Entretanto, de acordo com o sindicato, como a madeira é um produto natural, muitas vezes o consumidor (a construtora), tem problemas de recebimento fora das especificações da obra e tem que devolver a madeira, além de sofrer atraso pela falta do item em seus pátios, o que leva à paralisação do seu dia a dia de operação.
Segundo o Sindimasp, isso não ocorre quando a compra é realizada por meio de uma empresa atacadista, que entrega exatamente o que está especificado no pedido, com DOF (Documento de Origem Florestal, do Ibama), nota fiscal e pós-venda, o mais importante.
Uma das maneiras de o atacado se prevenir se dá em obter as informações sobre os produtores que desconsideram etapas, não comprando mais material destes. “A gente dá preferência ao fornecedor que vende só para depósitos de madeira e de materiais de construção”, complementa o presidente do Sindimasp.
O segundo tipo de concorrência se dá pelo mercado ilegal de madeira, que, segundo o sindicato, só existe porque muitas empresas, para baratear seus custos, adquirem o material de forma ilegal, para poder ter melhores preços.
O terceiro tipo de concorrência se dá pela substituição da madeira por outros produtos, em razão da carga tributária excessiva que incide no item (ICMS 18%), frente aos demais produtos consumidos pela construção civil (ICMS 12%). De acordo com Saab, essa diferença de 6% somente nesse imposto leva a uma discrepância de 10% a 12% no preço final, levando a madeira de origem legal a perder o atrativo econômico.
Existem os casos de grandes empresas que fracionaram o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e se tornaram micros ou pequenas empresas para fugir do alto pagamento dos impostos.
A divisão já foi vista como fraude tributária, mas a decisão do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), de 2016, admite o fracionamento de uma companhia de um mesmo grupo para reduzir a tributação. A separação é lícita desde que haja uma distinção clara entre as atividades e a contabilidade entre as empresas divididas.
Apesar do amparo legal, a atividade gera prejuízos para parte das empresas do setor. “Por causa dessa isenção, essas empresas de pequeno porte podem vender o produto com o valor mais baixo, e nós não conseguimos concorrer com isso”, alerta Saab.
Em meio a esse cenário, o atacadista distribuidor aposta na adaptação do estoque e da logística para enfrentar a concorrência. “O comprador que precisa de mercadoria com urgência prefere pagar a mais a aguardar infinitamente para receber o produto. Então as empresas têm trabalhado no enxugamento dos gastos da mãos de obra direta e indireta e redução de custo operacional para tentar manter a estabilidade.”
Origem do produto
As empresas filiadas e associadas ao Sindimasp atuam com diversos tipos de produtos voltados à construção civil, de pequeno, médio ou grande portes. Em razão da natureza dos produtos oferecidos pelos associados e da preocupação do sindicato com a legalidade do mercado, a busca pela certificação dos produtos, pela capacitação dos depósitos e pela conscientização dos clientes é outro ponto trabalhado pelos atacadistas do setor madeireiro.
Grande parte da madeira serrada usada no Brasil é proveniente da Amazônia Legal. A área tem nas regiões Sul e Sudeste os principais mercados, sendo que o Estado de São Paulo responde por 20% do consumo nacional de madeira amazônica, e o grande consumidor é a construção civil e o próprio governo, por meio das compras públicas.
A fiscalização é feita por diversos órgãos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Polícia Federal (PF), mas a extração ilegal e o desmatamento ainda devastam a floresta.
Em dezembro de 2017, o Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), publicado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), detectou 184 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia. O aumento com relação ao mesmo período de 2016, quando foram registrados 9 quilômetros quadrados, é resultado do monitoramento em regiões com presença frequente de nuvens. O boletim de dezembro passado fez uso do novo satélite que permite detectar desmatamentos com mais precisão.
O monitoramento detalha que o desmatamento ocorreu no Pará (64%), em Rondônia (18%), no Mato Grosso (13%), em Roraima (3%) e no Amazonas (2%), sendo que 55% do desmatamento ocorreram em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse; 36% em assentamentos agrários; 5% em terras indígenas; e 4% em unidades de conservação.
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