Sustentabilidade
19/11/2024SP Carbono Zero traz oportunidades para as lideranças empresariais comprometidas com a cultura da descarbonização
Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP debate a economia de baixo carbono e a nova estrutura de compromissos para as empresas
A economia de baixo carbono é um modelo econômico que visa reduzir ou eliminar a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs), principalmente o dióxido de carbono (CO₂), com foco em reduzir os efeitos das mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável.
Debater as oportunidades para as lideranças empresariais comprometidas com a cultura da descarbonização foi o painel principal da reunião deste mês do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O painel contou com a participação de Carina Dolabella Pereira, coordenadora da Assessoria de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) do Estado de São Paulo, que apresentou o Compromisso SP Carbono Zero, uma importante medida na busca pela redução de emissões de GEEs no Estado. A iniciativa tem como foco incentivar uma frente de lideranças comprometidas com a cultura da descarbonização, alinhada à campanha Race to Zero, da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja meta é zerar as emissões líquidas de carbono até 2050.
Lançado em 2023, o projeto estimula que organizações paulistas apresentem seu inventário de emissões diretas e estabeleçam uma trajetória de descarbonização, até 2050 — uma espécie de “visão de futuro” e repleta de oportunidades para os profissionais comprometidos com esse processo.
Como acontece
O SP Carbono Zero busca mobilizar as empresas paulistas a adotarem compromissos concretos de descarbonização até 2050, promovendo a transparência e incentivando a redução das emissões de GEEs. “O programa, que representa uma evolução do Acordo Ambiental São Paulo, de 2019, e do Protocolo Climático de São Paulo, de 2015, prevê que, a partir dos levantamentos de emissões passadas, sejam estabelecidas visões de futuro expressas, de diferentes formas, com metas, objetivos, estimativas, trajetórias e metodologias. É o Estado de São Paulo marcando a sua posição na trajetória de descarbonização”, informou Carina.
Redesenhado para integrar empresas em uma estrutura de adesão voluntária, o programa conta com categorias de reconhecimento que variam de acordo com o nível de compromisso. “É possível se inscrever em cinco categorias: Platina, Ouro, Prata, Bronze e Menção, cada uma refletindo um estágio de comprometimento com a redução das emissões e práticas de sustentabilidade”, detalhou a coordenadora.
A categoria Platina, por exemplo, é voltada para as empresas que aderem à campanha Race to Zero, comprometendo-se a alcançar a neutralidade climática até 2050. Já a categoria Ouro contempla aquelas que, mesmo sem integrar a iniciativa da ONU, traçam um plano de descarbonização. Já as categorias Prata e Bronze reconhecem esforços menores, incluindo organizações que assumem metas de redução parcial de carbono. A categoria Menção, por sua vez, é destinada a casos exemplares de iniciativas que, mesmo sem inventários formais de emissões, servem como referência para outras empresas.
Estratégias para mitigação e ações climáticas
Carina explicou que, além de incentivar as empresas na execução de inventários de carbono, o SP Carbono Zero busca promover uma visão de longo prazo, envolvendo ações de mitigação com metas para 2030, 2040 e 2050. Segundo ela, o programa tem um papel importante na preparação dos negócios para a futura regulamentação desse mercado, ainda em discussão em Brasília.
“Além disso, São Paulo, que é membro da campanha Race to Zero, vem alinhando as estratégias ao Acordo de Paris. Desde a publicação do Plano de Ação Climática, em 2021, o Estado tem estabelecido metas de descarbonização para as principais áreas econômicas, como Transporte, Indústria e Agricultura”, destaca.
Governança e transparência
O compromisso não prevê auditoria obrigatória, confiando na responsabilidade reputacional das empresas para garantir a veracidade das informações. A fiscalização obrigatória continua sendo realizada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que exige que negócios com emissões acima de 20 mil toneladas de CO₂ apresentem inventários anuais.
“Para fomentar a transparência, a Cetesb disponibilizou um painel dinâmico no seu site com uma série histórica das emissões. Isso permite ao público acessar dados por setor e acompanha os compromissos de redução assumidos pelas empresas”, explicou Carina.
A adesão ao SP Carbono Zero pode ser realizada por meio de um formulário de pré-adesão, seguido por um período de 180 dias para o cumprimento das exigências. Carina destacou que o programa está aberto a todos os setores e que o governo busca fortalecer a governança climática por meio de uma articulação intersetorial, envolvendo tanto o setor público quanto o privado.
“A iniciativa representa um avanço no compromisso de São Paulo com a sustentabilidade e convida as empresas a participarem ativamente da transição para uma economia verde”, apoiou José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.
Combate ao aquecimento global
Em recente artigo, Goldemberg reforça ainda que essa batalha transcende fronteiras, fazendo uma analogia entre o aumento da população e o aquecimento global. “Os países desenvolvidos, os ‘ricos’, com uma população de 1,5 bilhão, estão distribuídos em 38 países (Estados Unidos, Japão e países da Europa). Essa população emite per capita três vezes mais CO₂ do que os ‘pobres’ (6,5 bilhões de pessoas nos países em desenvolvimento) distribuídos em mais de 150 países”, escreveu.
As emissões de CO₂ dos países “ricos”, segundo o professor, estão diminuindo em razão de avanços tecnológicos e leis que limitam as emissões. Já as emissões dos países “pobres” estão aumentando rapidamente, sobretudo naqueles que estão se industrializando e cuja economia está crescendo. “Esse aumento é inevitável se não forem tomadas medidas para substituir o uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), repetindo o que os países industrializados fizeram”, destacou Goldemberg.
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