Negócios
15/07/2021Startups: ambiente de negócios brasileiro precisa de tripé amparado nos setores público, privado e na academia
Em reunião do Comitê Startups, cônsul-geral de Israel no Brasil, Alon Lavi, pontua como o País conseguiu ser um dos mais competitivos e atrativos para empresas de tecnologia
Faltam procedimentos jurídicos simplificados, que permitam o estabelecimento de novas iniciativas no Brasil, Lavi sinaliza
(Arte: TUTU)
Israel se destaca como um dos maiores incentivadores e fomentadores de startups no mundo, um ambiente que consegue atrair grandes empresas estrangeiras para a realização de pesquisas de produtos e serviços, ainda que não tenha escala de fabricação. Já o Brasil se destaca por ser uma nação com escala, o que abre janelas de oportunidades para mais relações bilaterais. As políticas de desenvolvimento para as empresas foram tema de reunião do Comitê Startups da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), que recebeu o cônsul-geral de Israel no País, Alon Lavi.
“Brasil e Israel são complementares no provimento das condições sob as quais startups se desenvolvem: Israel detém toda a tecnologia e centros de pesquisa e desenvolvimento promotores para inovação, enquanto o Brasil detém os meios e a escalabilidade para a produção. Além disso, Israel e Brasil, em suas relações bilaterais, já possuem as infraestruturas institucional e comercial robustas para o fluxo de comércio e parcerias. O programa Scale-up In Brazil é um exemplo de iniciativa voltada a amparar a instalação e a operação de empresas israelenses no Brasil”, ele pondera.
Tripé da inovação
À FecomercioSP, ele enfatiza que, em Israel, o investimento na alavancagem de startups se dá de modo direto, por meio de incentivos fiscais para abertura de empresas ou subvenções público-privadas, visando a assistir financeiramente o desenvolvimento de iniciativas; e também de modo indireto, a partir do investimento em universidades. De forma geral, foi estabelecido uma interligação por meio do tripé setor privado, setor público e academias de pesquisa.
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Em Israel, o setor público é quem garante parte dos recursos e a facilidade para as atividades empresariais. Os fundos perdidos são comuns naquela nação. O país aplica os recursos nas empresas, e, depois de todo o processo de evolução, se a startup tem sucesso, ela devolve o dinheiro; caso contrário, o montante não precisa ser devolvido, de forma que o governo assuma o risco. “Isso faz uma diferença enorme. Israel, atualmente, investe em torno de 3,5% do PIB [Produto Interno Bruto] em fundos perdidos. É um dos maiores do mundo”, enfatizou ele. “Israel ainda conta com um consolidado mercado de capital de risco (venture capital), robustos acordos comerciais e uma economia flexível, aspectos relevantes para a inserção de novos mercados e de superação de deficiências de mercado”, esclarece o cônsul.
Além disso, a partir do estabelecimento da Israel Innovation Authority (Autoridade Nacional de Inovação), muito dos programas de financiamento passaram a requerer a cooperação entre startups e centros de pesquisa, estejam eles localizados nacional ou internacionalmente. Com isso, garantiu-se que os riscos envolvidos na iniciativa sejam distribuídos pelas partes envolvidas. Já as parcerias com empresas estrangeiras são facilitadas pela estrutura institucional já consolidada.
Ele sinaliza que as startups israelenses buscam estabelecer parcerias sobretudo nos campos em que são mais competitivas, como atividades relacionadas aos setores de cibersegurança, gerenciamento de recursos hídricos, big data, etc.; e não apenas no aspecto financeiro, mas de escala e de compartilhamento de conhecimento, Lavi comenta.
O que o Brasil precisa mudar
O cônsul explica em que pontos o País precisa evoluir para se tornar um ambiente mais condizente com as necessidades das startups. O primeiro é a criação de mais fundos acessíveis, como fundos perdidos, para empréstimos/financiamento; e, em seguida, ferramentas disponíveis às startups que não sejam complicadas de usar.
Outro ponto é a transferência de tecnologia. No Brasil, grande parte das pesquisas fica reclusa à academia, não se transformando em uma pesquisa validada para aplicação no mercado. “Não há um caminho claro para pesquisadores transformarem a ideia em produto ou serviço rentável. O desafio é grande, pois é preciso pegar a ideia da academia e transformá-la em dinheiro, mas de forma que o professor/pesquisador também ganhe, assim como a universidade e o investidor. Todos os lados precisam ganhar. Atualmente, no Brasil, poucas patentes estão desenvolvidas para produtos, a ponte entre os dois lados não é firme.”
Faltam procedimentos jurídicos simplificados, que permitam o estabelecimento de novas iniciativas no País de modo agilizado. “Facilitaria se houvesse a simplificação do sistema de tributação e de transferência de capitais ou investimentos, por exemplo. A ausência de programas para promoção de startups, sejam nacionais ou internacionais, se superada, tornaria o ambiente de negócios mais atrativo.”
Segundo o cônsul, é preciso criar um caminho claro para o empreendedor entender como conseguir o dinheiro com investidores, independentemente se for de capital semente, investimentos-anjo, venture capital, ajuda do governo, etc. Procedimentos claros e simples para que esses empreendedores possam buscar auxilio das agências de fomento dedicadas a isso também são essenciais, na Finep, na Embrapii ou na Embrapa.
Comitê Startups
Os trabalhos do Comitê Startups já completaram seis meses, com foco no acompanhamento das evoluções do ecossistema no Brasil e no exterior, bem como de políticas públicas. O comitê vem atuando por meio de advocacies a fim de contribuir para um ambiente mais seguro às empresas, representado os setores de venture capital, proteção de dados, aceleração de startups, associações, insuretechs, legaltechs, entre outros relacionados à inovação.
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