Negócios
23/09/2021Startups de carros seminovos recebem aportes milionários e aceleram transformação digital do setor
Empresas superam a desconfiança do consumidor e inovam com usabilidade, agilidade e transparência
Total de automóveis comerciais leves usados, vendidos no Brasil, acumula alta de 55,8% no ano até julho
(Arte: TUTU)
Em julho, a Kavak, startup que atua na compra e na venda digitais de automóveis seminovos e usados, oficializou a sua entrada no mercado nacional com um investimento inicial de R$ 2,5 bilhões. A empresa, o primeiro unicórnio – startup com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão – mexicano, nasceu a partir de experiências ruins de seus fundadores ao comprar ou vender carros usados. A expectativa é de que o Brasil se torne o principal país onde a empresa opera até o fim de 2022. Recentemente, a companhia recebeu um aporte internacional de US$ 700 milhões.
Uma combinação de fatores ajuda a explicar por que as startups atuantes neste mercado têm recebido vultosos investimentos nos últimos meses – bem como por que o Brasil é prioritário para muitas delas. O mercado brasileiro de veículos usados é o terceiro maior do mundo, com mais de 11 milhões de unidades comercializadas por ano, movimentando em torno de R$ 600 bilhões, ficando atrás apenas de Estados Unidos e China. Assim, o mercado de usados é de cinco a seis vezes maior que o de automóveis novos.
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O total de automóveis comerciais leves usados, vendidos no Brasil, acumula alta de 55,8% no ano até julho, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O mercado aquecido é reflexo da falta de peças, que tem afetado a produção de veículos em nível mundial e, consequentemente, as vendas, já que o prazo de entrega de alguns modelos é de nove meses.
Segundo estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de 120 mil a 140 mil veículos deixaram de ser produzidos no Brasil em decorrência da escassez de semicondutores. Adicionalmente, destaca-se a elevação dos custos de produção (preço do aço e desvalorização cambial) e o inevitável repasse aos preços. Atualmente, um veículo “popular” novo é vendido por R$ 60 mil, o que faz com o que consumidor prefira comprar um veículo seminovo de categoria superior por um valor equivalente.
Ainda sob o ponto de vista do consumidor, a pandemia foi uma das causas para que ele se tornasse mais receptivo a inovações. Nos últimos meses, muitas pessoas tiveram a primeira experiência com ferramentas digitais, como sites e aplicativos de bancos, lojas online, serviços públicos, etc., em que ficaram evidentes a comodidade e o conforto proporcionados pela digitalização. A expectativa é que isso elimine a resistência ou desconfiança de comprar e vender um veículo por uma plataforma digital.
Para melhor entender o funcionamento desse mercado e os diferenciais oferecidos aos usuários, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) separou alguns casos de sucesso. Confira a seguir.
Kavak
A Kavak, uma startup mexicana avaliada em US$ 4 bilhões, recentemente, iniciou suas operações no Brasil oferecendo soluções em um mercado que pouco evoluiu nas últimas décadas e que ainda gera insatisfação para parte dos consumidores, por ser pouco transparente e confiável. A plataforma funciona da seguinte forma: para os vendedores, basta preencher um breve questionário com informações gerais do veículo (ano, modelo, versão, cor e quilometragem aproximada), e uma oferta pelo veículo já é liberada.
O algoritmo da Kavak se baseia em preços de classificados, leilões e informações de mercado para definir um valor ao veículo. Se o vendedor estiver interessado em prosseguir com a venda, basta agendar uma inspeção do automóvel, que pode ser em casa, no local de trabalho ou em um dos centros da empresa localizados em São Paulo. A inspeção dura até 2 horas, quando cerca de 240 itens são inspecionados e se estabelece o preço final da oferta. A única restrição presente é que a plataforma só compra veículos fabricados a partir de 2010, com até 90 mil quilômetros rodados ou até 20 mil por ano.
Além da inspeção que busca evitar “dor de cabeça” ao futuro dono do veículo, para comprovar a qualidade do automóvel, a Kavak não faz a intermediação de compra e venda, ou seja, a startup compra o veículo, e, após a preparação com eventuais reparos estéticos, este é anunciado. Atualmente, a área de cobertura da Kavak é a cidade de São Paulo, com seis centros de inspeção, mas a meta é chegar a 20 até o fim deste ano.
Karvi
A Karvi, uma startup argentina com apenas três anos de história e pouco mais de um ano de operação no Brasil, conecta concessionárias e lojas de veículos a potenciais clientes interessados em veículos novos ou usados. No primeiro trimestre deste ano, a plataforma recebeu um aporte de US$ 10 milhões para expandir as operações.
No modelo de negócio da Karvi, as lojas ainda têm um papel central para definir preço, assumir trâmites necessários e garantir qualidade no atendimento. A plataforma acompanha o andamento da negociação permitindo que o cliente entre em contato com a concessionária ou visite o automóvel antes de fechar a compra. No caso dos seminovos, há inspeção de mais de 280 itens para diminuir os riscos de problemas mecânicos.
InstaCarro
A InstaCarro, startup prestes a completar seis anos de história, tem a proposta de vender o veículo em 24 horas, ao conectar o usuário (vendedor) a cerca de 1,5 mil lojistas de todo o Brasil. A plataforma funciona da seguinte forma: o usuário agenda uma vistoria gratuita do veículo em sua casa ou em uma loja da InstaCarro de sua preferência; em seguida, um especialista faz uma vistoria do veículo e tira fotos, que serão utilizadas em um leilão virtual; após aprovação na inspeção, o veículo é cadastrado na plataforma e, durante 24 horas, revendedores interessados poderão dar lances para adquirir o veículo.
Tendo conhecimento da proposta mais alta, o vendedor decide se prossegue com a venda, e a plataforma cuida de toda a documentação necessária e do pagamento. Até hoje, a plataforma já vistoriou mais de 170 mil carros, ultrapassou a marca de mais R$ 650 milhões em transações e acumulou mais de 1 milhão de lances nos carros.
Em julho, a plataforma captou US$ 23 milhões em investimentos, que serão utilizados para expansão da operação para outras cidades e Estados e melhorias na plataforma – como a adoção da transparência na hora de divulgar os fatores que desvalorizam o veículo e o início da operação entre pessoas físicas.
Volanty
A Volanty, startup brasileira fundada em 2017, tem um modelo de negócios igual ao da Kavak, ou seja, após a realização de uma vistoria, a plataforma compra o veículo do usuário e o revende. Atualmente, a Volanty conta com lojas nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em julho, foi comprada pela Creditas. A aquisição faz parte da estratégia da fintech de ampliar o portfólio de serviços no segmento de automóveis.
A Carflix, a Dryve e a Carupi são outros exemplos de sucesso que atuam no setor de veículos seminovos, mostrando como este promissor mercado será concorrido nos próximos anos, contexto em que a confiança dos consumidores na plataforma será um diferencial.
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