Editorial
27/07/2017Tecnologia e emprego no comércio, por José Pastore
Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP discute futuro do setor com mudanças no perfil dos consumidores
Entrada maciça do comércio eletrônico está revolucionando o modo das pessoas comprarem no país (Arte/Banco de imagens)
Nos últimos anos, comércio e serviços têm sido os setores que mais geraram empregos. No Brasil, eles respondem por 75% da mão de obra ocupada. São também os setores que possuem a mais variada composição de qualificações, indo desde os profissionais altamente especializados, como no caso dos bancos, seguradoras, pesquisa, saúde e educação, até os menos qualificados, como é o caso do pessoal auxiliar em lojas, restaurantes e hotéis, atividades de asseio e conservação, segurança e outros.
A entrada maciça do comércio eletrônico está revolucionando o modo de os consumidores comprarem, provocando o fechamento das lojas tradicionais. Só no primeiro semestre de 2017 foram eliminados mais de 100 mil postos de trabalho no comércio nos Estados Unidos. Grandes redes de lojas estão fechando por falta de demanda, na medida em que os consumidores vão preferindo a internet. Sessenta e cinco por cento dos livros são comprados dessa forma; o mesmo ocorre com 45% do material de escritório, 40% dos brinquedos e 30% dos eletrônicos. Nos supermercados, cresce o número de lojas sem profissionais no caixa – os consumidores entram, fazem as compras e registram o gasto no leitor ótico com seu telefone celular.
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O encolhimento do emprego nesse setor é uma realidade mundial. Para cada emprego que se abre no comércio eletrônico, há três que são eliminados nos estabelecimentos tradicionais. O desemprego tecnológico atinge parcelas estratégicas da força de trabalho do comércio – mulheres, idosos e pessoas com menor qualificação. Nos Estados Unidos, projeta-se uma perda de mais de 6 milhões de empregos no setor ao longo dos próximos cinco anos. O fenômeno avança em praticamente todos os países, pondo em risco os atuais 200 milhões de empregos das lojas de varejo.
O mesmo ocorre no setor de restaurantes e hotelaria. É cada vez maior o número de restaurantes que usam novas tecnologias para servir ou entregar refeições. A rede McDonald’s acaba de instalar 14 mil quiosques de autoatendimento nos Estados Unidos, poupando os atendentes de balcão. E tem planos para crescer. A Amazon iniciou um serviço de entrega de refeições, substituindo os garçons. No campo da hotelaria, cresce o número de hotéis onde a entrada e a saída dos hóspedes são feitas em máquinas eletrônicas e a limpeza dos quartos, realizada por robôs.
O Brasil não está isento dos impactos dessas mudanças. Em relatório recém-publicado, a Consultoria McKinsey estima que cerca de 50% dos atuais postos de trabalho no Brasil poderão ser automatizados em um período de 10 a 15 anos. Esse é, sem dúvida, o maior desafio para os formuladores de políticas públicas, que têm de atenuar os efeitos deletérios do avanço tecnológico.
Ocorre que faltam métodos seguros para fazer previsões nesse campo. É por isso que alguns pesquisadores estão propondo a construção de índices de automação e, sobretudo, de uso de inteligência artificial (Erik Brymjolfsson e Tom Mitchel, Tracking how technology is transforming work, Revista Nature, abril de 2017). São ferramentas de grande utilidade para se redesenhar os currículos das escolas para atender a demandas emergentes.
Embora esse ferramental seja ainda embrionário, uma coisa é certa: o ajuste ao novo mercado de trabalho dependerá em grande parte da existência de uma educação de boa qualidade e que permita às pessoas aproveitarem as novas oportunidades profissionais. Essa educação terá de ser continuada ao longo de toda a vida profissional e, quem sabe, na aposentadoria.
* José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo no dia 27 de junho de 2017
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