Editorial
05/01/2018Tecnologia e empregos: uma luz no fundo do túnel, por José Pastore
Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP analisa relação entre trabalho e uso de novas tecnologias
"Trabalhador do setor industrial da Alemanha sabe que a empresa só pode sobreviver e crescer se for extremamente eficiente e, para tal, usar as novas tecnologias", explica Pastore
Por José Pastore*
Se perguntarmos a um trabalhador do setor industrial da Alemanha se ele teme as novas tecnologias, provavelmente, ele dirá que teme as velhas tecnologias. Isso porque ele sabe que a empresa onde trabalha só pode sobreviver e crescer se for extremamente eficiente e, para tal, usar as novas tecnologias. É o que garante o seu emprego.
Isso não significa que a digitação, a automação e a inteligência artificial não ameaçam os empregos dos alemães. Eles compreendem, porém, que o seu maior impacto será na transformação das diferentes profissões e, para isso, se preparam. Na Alemanha, mais de 50% dos jovens cursam escolas que utilizam o sistema dual: eles ficam uma parte do tempo nos bancos escolares e, outra, nas oficinas e escritórios das empresas. É assim que combinam conhecimentos teóricos com a prática em 300 profissões e quando adquirem a flexibilidade para estudar e aprender a vida toda.
O mesmo sistema, com ligeiras adaptações, existe na Áustria, Holanda, Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. São também os países que apresentam as mais baixas taxas de desemprego na Europa. Ou seja, a boa educação prepara as pessoas para enfrentar o desconhecido no dia a dia — o que é essencial num mundo em que as tecnologias evoluem a uma velocidade alucinante.
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Devo alertar o leitor que a estratégia de usar a educação como veículo para o ajuste ao mundo tecnológico é extremamente difícil. Não é qualquer tipo de educação que garante isso, mesmo porque, na maioria dos países, os currículos escolares e a capacitação dos professores evoluem de maneira muito mais lenta do que as novas tecnologias. Nesses casos, a escola está sempre atrasada. Isso só não ocorre quando escola e empresa entram em estreita simbiose, como é o caso do sistema dual. Ali, teoria e prática convivem em constante intimidade.
No Brasil, temos uma semente do sistema dual em fase experimental no Senai que, desde 2016, ministra cursos em parceria com empresas instaladas em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, tendo ainda como participante a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.
Embora seja cedo para avaliar o modelo, os primeiros resultados mostram avanços notáveis em matéria de versatilidade dos alunos que vêm recebendo esse tipo de preparação. A ampliação dos cursos fará o Brasil dar um grande salto, pois, ao contrário da Alemanha, entre nós apenas 8% dos jovens se matriculam no ensino profissional e, mesmo assim, em escolas afastadas da realidade das empresas. Para os interessados sugiro a leitura de Referências e guia de operacionalização do modelo Senai de ensino dual”, Brasília, Senai, 2015.
O mundo atual não deixou aos seres humanos a escolha entre adotar ou não adotar as novas tecnologias. Essas são imperativas para melhorar a produtividade, a competitividade e a qualidade dos bens e serviços, assim como para reduzir seus preços.
Além do mais, é preciso reconhecer o elevado papel social das novas tecnologias. Elas mesmas simplificam enormemente o processo de ensino e aprendizagem que podem ser feitos a distância em grandes grupos, usando recursos até então desconhecidos e inacessíveis para a maioria dos seres humanos. As novas tecnologias são de acesso crescente. Com elas, crianças, jovens e até idosos aprendem com mais facilidade e maior velocidade. Muitos interagem com as máquinas que corrigem erros e indicam caminhos até então desconhecidos e inexplorados.
Ou seja, as próprias tecnologias estão dando aos professores e às escolas um enorme ganho de eficiência. É inegável haver economias de escala expressivas no sistema educacional, quando se utiliza adequadamente as informações e os conhecimentos facilitados pelas novas tecnologias. Tudo isso me leva a propor aos leitores que encarem a automação e a inteligência artificial não apenas como destruidoras de empregos, mas também como promotoras da capacidade produtiva dos cidadãos, indutoras de investimentos e de oportunidades de trabalho e democratização do acesso aos conhecimentos humanos.
* José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense no dia 5 de janeiro de 2018
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