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Editorial

“Terrenal” faz de mito bíblico um microcosmo das relações contemporâneas, diz diretor

Para Marco Antônio Rodrigues, na sociedade digital, mitos e fábulas criam narrativas que manipulam corações e mentes

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“Terrenal” faz de mito bíblico um microcosmo das relações contemporâneas, diz diretor

"Terrenal" reflete sobre temas da atualidade, como abandono paterno e distorção dos fatos, segundo diretor
(Arte/Tutu)

Assim como diversos homicídios da atualidade, um ato passional esteve por trás do primeiro assassinato do mundo. Ao reinterpretar o mito de Caim e Abel, a comédia dramática Terrenal – pequeno mistério ácrata, em cartaz no Teatro Raul Cortez, na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), propõe, além da analogia da violência impulsiva, a reflexão sobre questionamentos os quais a humanidade se debruça desde tempos imemoriais, como o abandono paterno e a distorção dos fatos.

De acordo com o diretor, Marco Antônio Rodrigues, a peça trata da “incrível capacidade fabular do homem”, que se presta a adulterar histórias e a esvaziar conteúdos numa tentativa de se proteger da barbárie.

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“Na sociedade digital, mitos, fábulas e narrativas ocupam espaço central nas nossas vidas e não raro manipulam corações e mentes, subtraindo a memória e a história, distorcendo os destinos de nações e povos”, comenta Rodrigues. “Nesse sentido, a peça é uma obra otimista, porque repõe a lenda dos dois irmãos como um microcosmo das relações sociais contemporâneas”, complementa.

Para o diretor, o texto, de autoria do dramaturgo argentino Mauricio Kartum, também pondera a respeito de como as crenças forjam visões deturpadas do que é certo ou errado. “Na refabulação, os dois irmãos esperam o retorno do pai, que há 20 anos os abandonara num loteamento. Quando o pai chega, Caim, na ânsia de agradar a Deus, mata Abel como ato de amor. Sua compreensão distorcida o perde, já que, para ele, na mais pura tradição religiosa, só oferendas de sangue têm pacífica e cabal eficácia”, disseca Rodrigues.

Na montagem, Caim (Dagoberto Feliz) e Abel (Sergio Siviero), enquanto adotam modos de vida completamente distintos, dividem um terreno, até que Tata (Celso Frateschi), o pai que os abandonou ainda crianças, reaparece na data que marca 20 anos de seu desaparecimento.

Segundo a tradutora, Cecília Boal, a montagem transporta o conflito fraternal para o presente ao tratar da dificuldade de lidar com o diferente. “Terrenal, a terra que não é paraíso, nos propõe uma versão dialética do episódio bíblico, a eterna luta dos irmãos que sempre acaba em morte, a impossível missão de destruir o diferente. A peça revela o que já sei, o diferente está em mim, sou eu mesmo e tenho que conviver com isso”, pontua.

Com duração aproximada de 90 minutos e trilha sonora ao vivo, executada por Demian Pinto, a peça tem sessões às quintas-feiras, às 21h, até 25 de julho. A classificação é 16 anos. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou pelo site Ingresso Rápido.

Serviço
Temporada: até 25 de julho.
Quintas-feiras, às 21h.
Teatro Raul Cortez – Rua Dr. Plínio Barreto, 285 – Bela Vista, São Paulo (SP).

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