Notamos que você possui
um ad-blocker ativo!

Para acessar todo o conteúdo dessa página (imagens, infográficos, tabelas), por favor, sugerimos que desabilite o recurso.

Editorial

Teste de resiliência para o mercado de trabalho

Presidente executivo da FecomercioSP diz que a experiência dos últimos anos oferece indicações de que o mercado laboral enfrentará desafios em 2025

Ajustar texto A+A-

Teste de resiliência para o mercado de trabalho
"O modelo de crescimento baseado predominantemente em consumo doméstico normalmente esbarra em inflação", avalia o presidente executivo da FecomercioSP (Foto: Edilson Dias/FecomercioSP)

Ivo Dall'Acqua Júnior*

Após a forte recuperação pós-pandemia, estimulada pelo crescimento das taxas de ocupação, a economia brasileira começa a dar sinais de desaceleração. Isso em meio a obstáculos persistentes, sobretudo o crônico problema fiscal do País. E, diante do alerta soando mais alto do que o otimismo gerado pelos resultados recentes, o mercado de trabalho enfrentará desafios em 2025.

O boletim Focus, do Banco Central (Bacen), prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2% para este ano. É um ritmo inferior aos 3,5% estimados para 2024. Apesar de representar um crescimento, essa marca poderia ser mais robusta. O que segura essa projeção?

Em primeiro lugar, a inflação persistente, além dos juros elevados e do alto endividamento das famílias colocam em risco a continuidade da expansão do mercado de trabalho, principal motor do consumo neste momento. A taxa de desemprego está na casa dos 6% hoje, um recorde histórico. Mas, ainda que sejam essenciais para evitar uma crise de preços, juros altos e crédito mais caro reduzem o consumo da população e limitam o investimento das empresas. Com as pessoas segurando os gastos e as empresas também investindo com menos intensidade, a oferta de emprego tende a acompanhar a retração.

A experiência dos últimos anos oferece indicações. Cálculos da FecomercioSP apontam que, entre 2011 e 2024, a cada 0,5 ponto percentual (p.p.) de crescimento do PIB, cerca de 450 mil vagas formais foram geradas no País. Durante o período pós-pandemia, esse número foi ainda maior, alcançando 560 mil empregos para cada 0,5 p.p. de avanço econômico. Com base nessa relação, o crescimento projetado de 2%, em 2025, pode resultar na criação de 1,2 a 1,5 milhão de empregos formais. Embora menor que as quase 2 milhões de vagas esperadas para 2024, trata-se de um resultado relevante.

Isso considerando que o mercado laboral tem passado recados otimistas. Após a perda de quase 200 mil empregos em 2020, o Brasil teve uma recuperação acelerada, criando mais de 6 milhões de vagas formais entre 2021 e 2023. No ano passado, a economia continuou nesse ritmo e, de janeiro a novembro, gerou mais de 2,2 milhões de postos de trabalho – com o setor de Serviços sendo o principal responsável pelo desempenho, respondendo por mais de 1,1 milhão das vagas. 

Em contrapartida, a criação de empregos está diretamente ligada às decisões de investimento das empresas que, por sua vez, dependem da disponibilidade de caixa, da confiança econômica e da saúde financeira dos negócios. Aqui mora o problema: elas estão bastante preocupadas com o futuro da economia. 

Além disso, o cenário atual é marcado pelo elevado risco fiscal. Os altos gastos correntes do governo têm gerado déficits sucessivos, enquanto a dívida pública segue trajetória ascendente em relação ao PIB. A falta de políticas estruturais para controle de despesas fragiliza a confiança dos agentes de mercado, o que, por sua vez, exige uma política monetária mais restritiva do que o ideal. Isso não apenas dificulta o controle da inflação atual, que segue acima do teto da meta, como também alimenta expectativas inflacionárias para o futuro, tornando o ambiente econômico ainda mais incerto.

O modelo de crescimento baseado predominantemente em consumo doméstico normalmente esbarra em inflação, dada a estrutural incapacidade de a oferta acompanhar uma demanda aquecida por um tempo mais alargado. 

É assim que 2025 se apresenta como um ano de equilíbrio delicado. Por um lado, a economia ainda carrega a força da recuperação recente e a capacidade de gerar empregos, mesmo com uma expansão econômica moderada. Por outro, os entraves estruturais, principalmente nos campos fiscal e monetário, põem em xeque a sustentabilidade desse crescimento, indicando um cenário de precaução para os anos que estão por vir. 

* Ivo Dall'Acqua Júnior é presidente executivo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e diretor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Artigo originalmente publicado no portal Poder360 em 30 de janeiro de 2025.

Inscreva-se para receber a newsletter e conteúdos relacionados

* Veja como nós tratamos os seus dados pessoais em nosso Aviso Externo de Privacidade.
Fechar (X)