Editorial
14/03/2025Turismo em alta: um setor resiliente mesmo com a economia em desaceleração
Segundo levantamento da FecomercioSP, as empresas faturaram R$ 207 bilhões, um recorde na série histórica iniciada em 2011, já ajustado pela inflação

Por Guilherme Dietze*
A economia brasileira tem apresentado um crescimento robusto, com uma taxa em torno de 3,5%, superior à previsão inicial de aproximadamente 2% no início do ano passado. Em 2024, segundo o IBGE, a indústria avançou 3,1%, os serviços também cresceram 3,1%, e o comércio varejista registrou um aumento de 4,1% nas vendas.
O desemprego atingiu o menor nível da série histórica do IBGE, ficando em 6,2%. Além disso, como a inflação permaneceu sob controle durante a maior parte do ano passado, com uma pressão mais forte apenas nos últimos meses, a renda disponível dos trabalhadores alcançou o maior patamar já registrado: R$ 1,32 trilhão. Esse valor representa um crescimento de 7,6%, já descontada a inflação, significando um adicional monetário de quase R$ 100 bilhões.
Com esse aumento na renda, dando mais segurança, os consumidores aproveitaram a ampla oferta de crédito no mercado. De acordo com o Banco Central, as concessões – ou seja, os financiamentos obtidos no sistema financeiro – cresceram 10% em termos reais no último ano.
No entanto, com a demanda aquecida, há uma pressão natural sobre os preços, especialmente nos serviços. Para conter esse movimento, o Banco Central tem elevado a taxa básica de juros, a SELIC, que passou de 10,50% em meados do ano passado para um patamar próximo de 15% ao ano. Essa alta impacta diretamente a velocidade de expansão da economia brasileira.
Diante desse cenário, há um consenso de que o PIB deve desacelerar no segundo semestre deste ano, uma vez que juros elevados dificultam investimentos e compras a prazo. Entretanto, o setor de turismo deve continuar em expansão.
Para ilustrar essa tendência, em 2024, segundo levantamento da FecomercioSP, as empresas do setor turístico faturaram R$ 207 bilhões, um recorde na série histórica iniciada em 2011, já ajustado pela inflação. Com exceção do transporte rodoviário de passageiros, todos os segmentos registraram aumento de receita no último ano, com destaque para locação de veículos (10,7%), hospedagem (7,7%) e transporte aéreo de passageiros (3,5%).
Embora o turismo ainda represente uma parcela relativamente pequena da economia brasileira, seu potencial é significativo. Para efeito de comparação, o comércio movimenta cerca de R$ 3 trilhões anualmente. Outro indicador relevante é a relação entre passageiros transportados na aviação doméstica e a população. No Brasil, essa razão é de 0,43, enquanto nos Estados Unidos é de 2,4, na Rússia 3,68, na Austrália 2,6 e na Argentina 0,66.
Com uma oferta limitada e uma demanda crescente, a tendência é de aumento nos preços. Segundo o IBGE, o custo médio das hospedagens no país subiu 10% no acumulado de 12 meses até janeiro, mais que o dobro da inflação média do período, que foi de 4,56%.
Olhando para o futuro, é esperado um aumento na oferta de serviços turísticos, com ampliação das cidades tradicionais nesse setor. João Pessoa (PB) recebe investimentos superiores a R$ 1 bilhão em resorts e um parque aquático. No interior de São Paulo, um parque temático de R$ 2 bilhões abrigará a maior montanha-russa da América Latina. Em Gramado (RS), uma rede francesa investe mais de R$ 1 bilhão em um novo empreendimento. Além desses investimentos em hospedagem e lazer, obras de infraestrutura, como o contorno sul da Rodovia dos Tamoios – entregue no ano passado e que reduz em 30 minutos o tempo de trajeto até São Sebastião (SP) – facilitam o acesso a destinos turísticos e impulsionam novos negócios no setor.
O volume expressivo de investimentos espalhados pelo país demonstra a confiança no mercado de turismo nacional. A FecomercioSP mantém uma perspectiva otimista e projeta um novo recorde de faturamento para 2025, estimado em R$ 215 bilhões, um crescimento de 3,8%, já sobre uma base de comparação elevada.
Os gastos com turismo, em grande parte, são planejados. Para 2025, muitas empresas e famílias já se organizaram para eventos, feiras, congressos e viagens, aproveitando o bom momento da economia e da renda para parcelar seus compromissos antecipadamente.
Vale destacar que, em dezembro de 2024, o mercado formal de trabalho registrou 47,2 milhões de pessoas com carteira assinada, um aumento de 1,7 milhão em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso significa que mais pessoas terão férias, e uma parcela significativa delas deve optar por viajar, seja de ônibus, carro ou avião, contribuindo para a movimentação do turismo nacional. Além disso, o dólar elevado torna viagens internacionais menos acessíveis, incentivando o turismo interno.
Portanto, o cenário para o turismo no Brasil é promissor. Com recordes de faturamento e investimentos em expansão, mesmo diante do impacto dos juros elevados, a capacidade de pagamento dos brasileiros e a disponibilidade de crédito ainda viabilizam a realização de viagens para diferentes perfis de renda. Assim, o turismo se consolida como um dos destaques da economia brasileira, sendo um motor importante para a geração de emprego e renda. O ciclo de crescimento do setor tende a ser longo e positivo.
*Guilherme Dietze é economista e presidente do Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Artigo originalmente publicado no Panrotas em 13 de março de 2025.
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