Editorial
24/04/2023Varejo e serviços continuam em alta
Especialista comenta sobre os índices do varejo e serviços no Brasil diante dos números revelados pelo IBGE
Por André Sacconato*
Em virtude de mudanças na metodologia, só agora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) liberou os números de janeiro deste ano do varejo e do setor de serviços. De imediato, os primeiros dados do ano sobre estas atividades trazem informações relevantes a respeito da situação atual do País, vamos a elas.
O setor de varejo apontou aumento de 3,8% em comparação a janeiro do ano passado, e uma alta de 2,6% em relação a dezembro. Quanto às receitas nominais, houve alta de 14,1% em 12 meses.
O que se percebe, e era esperado, é uma desaceleração que deve se manter durante 2023, mas em níveis ainda altos. Os setores que mais cresceram no mês, como os supermercados, dependem mais do mercado de trabalho do que do crédito.
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Por falar em mercado de trabalho, este ainda mostra crescimento, gerando mais renda e consumo, mesmo com a subida dos juros. Como este processo ainda não foi revertido, é natural que o varejo apresente melhora em comparação ao ano passado, mas cada vez menor, ainda que feche o ano no positivo em termos de volume.
Já os dados dos serviços apontaram que, apesar de o setor ter caído 3,1% em janeiro frente a dezembro, apresentou forte alta de 6,1% diante de janeiro de 2022.
E aqui deixo uma má notícia na briga contra a inflação: serviços às famílias e alojamento e alimentação, setores dependentes da força do mercado laboral, registraram alta, inclusive na margem: 1% e 0,7%, respectivamente. No confronto com o ano passado, este resultado passa de 11%.
Em geral, estes resultados nos dizem que, pelo menos até janeiro, não houve clara tendência de arrefecimento da demanda que justificasse afrouxamento da política monetária, como falado no último texto.
É necessário estabilidade no mercado de trabalho para que haja espaço para a queda de juros, a qual também poderia ser obtida por meio de um comprometimento inequívoco com o corte de gastos do governo.
Perante uma conjuntura mais inflacionária nestes segmentos, as expectativas futuras de inflação também não cedem e obrigam o Banco Central (Bacen) a manter uma postura mais conservadora. Não basta a autoridade monetária garantir a convergência da inflação no curto prazo, é preciso também que se estabeleça uma solidez de convergência nas expectativas para a meta.
A despeito das circunstâncias, os números nos garantem uma desaceleração em voga, inclusive dos índices inflacionários. Até os serviços, ainda em níveis muito altos de atividade, já revelam alguma desaceleração na margem (alta de 8% em 12 meses, em nível muito aquecido, mas menor desde setembro de 2021).
A luta contra a inflação exige paciência para que não provoque precipitação na baixa dos juros. Como bem disse o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, a dose de juros é como um antibiótico: mesmo quando os exames mostram melhoras, é fundamental que se continue tomando a medicação, pois, se parar antes, a doença pode voltar, ainda mais resistente.
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 20 de abril de 2023.
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