Economia
10/02/2017“Brasil é o país mais fechado no mundo no comércio”, diz Otaviano Canuto
Diretor executivo do Banco Mundial diz que País precisa se integrar ainda mais ao comércio mundial
Otaviano Canuto diz que Brasil precisa passar por uma mudança estrutural para se desenvolver
(Foto/Tutu)
Para voltar a crescer com sustentabilidade, além de corrigir o problema do excesso de gastos públicos e endividamento do País, o Brasil precisa aumentar a sua produtividade e se abrir mais para o mercado externo. De acordo com Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial, o Brasil é o país mais fechado do mundo, entre as nações comparáveis, na área comercial.
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Em entrevista ao UM BRASIL, em parceria com a Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade de Columbia, localizada em Nova York, Canuto diz que o País precisa acabar com uma estrutura de proteção ao mercado interno, uma vez que o próprio investimento estrangeiro não vem ao Brasil com a intenção de buscar eficiência.
“O Brasil é o país mais fechado do mundo, em relação a todos os países comparáveis, na área do comércio. O País não vai chegar lá com essa estrutura”, diz Canuto. “Não existe um caso de experiência histórica no mundo, no século XX para o século XXI, de país que tenha chegado lá, que tenha passado de nível médio para renda alta, sem estar integrado comercialmente. Não existe - para acabar de vez com essa resistência ideológica ou interessada contra o Brasil se engajar comercialmente com o resto do mundo de maneira mais plena do que temos assistido”, completa.
Segundo o diretor executivo do Banco Mundial, apesar da crise fiscal, não há risco de o País decretar calote. Por outro lado, ele diz que os governos têm se mostrado incapazes de conter os gastos públicos por razões como inclusão social e manutenção de privilégios para grupos poderosos. Diante disso, o estabelecimento de um limite de crescimento para as despesas da União funciona como uma “camisa de força” para impedir um rombo fiscal ainda maior.
“Essa volúpia fiscal, que está levando o País a essa situação que gosto de chamar de ‘obesidade fiscal’, não seria tão grave se o País estivesse aumentando a sua produtividade a um ritmo maior do que vem sendo o caso nas últimas décadas”, afirma Canuto.
“Os momentos de crescimento que o Brasil tem tido são muito mais por incorporação de força de trabalho, um pouco refletindo a melhora da escolaridade, mas é um crescimento que não aconteceu nem por investimento em capital fixo nem por aumento da produtividade do conjunto. É esse problema que temos que enfrentar, porque, senão, a obesidade fiscal fica difícil de tratar.”
Para Canuto, o ritmo da economia brasileira deve começar a melhorar em breve. No entanto, a geração de empregos vai demorar um pouco mais.
“Infelizmente, o que acontece no mercado de trabalho reflete com uma defasagem aquilo que acontece no mercado de bens e serviços. Tanto para cima como para baixo, o emprego reflete o estado da economia com certa defasagem. Assim como o desemprego começou a subir algum tempo depois que a economia já estava apresentando ritmo negativo, que vem desde o final de 2014, agora a recuperação também tende a acontecer de maneira mais lenta. O que é importante é que essa recuperação seja de maneira sustentada, e não à base de aumento de crédito ou um consumo que não seja sustentado”, afirma.
Na entrevista, o diretor do Banco Mundial também comenta os desafios que o País enfrenta pela falta de infraestrutura, a importância da base de recursos naturais e a necessidade de melhorar o ambiente de negócios para aumentos dos investimentos.
A entrevista integra a série que discute estratégias para o crescimento e o papel do Estado na economia, gravada em São Paulo e no Rio de Janeiro, em dezembro de 2016.
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