Economia
18/08/2017“Estar ao lado de Temer, hoje, é uma coisa; daqui a um ano, será outra”, defende Rubens Figueiredo
Cientista político e consultor de marketing para campanhas eleitorais conversa com o UM BRASIL sobre momento de impopularidade da política
"A força desse governo não deriva da opinião pública, ela advém da capacidade que o presidente tem de montar uma grande coligação no Congresso Nacional”, explica Figueiredo
(Foto/Christian Parente/TUTU)
Existe uma ideia ingênua no Brasil de que é possível substituir a classe política de forma imediata para, assim, solucionar os problemas da Nação nesse âmbito, afirma o cientista político Rubens Figueiredo. Em entrevista ao UM BRASIL, ele diz que isso não aconteceu em nenhum lugar do mundo, tampouco deve acontecer aqui. “A gente tem de ter bom senso para apoiar a Operação Lava Jato e reformar nossas instituições políticas, o que não é fácil”, defende.
“Nossa opinião pública passou por momentos muito ruins, o eleitor brasileiro está azedo”, analisa o entrevistado. Segundo ele, em 2013 as pessoas foram às ruas expor uma insatisfação, basicamente, com a representação política. “Os políticos eram o grande alvo daquela manifestação. Quando aparecia uma bandeira de algum partido, o portador dessa bandeira corria o risco de ser linchado”, recorda.
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Os fatos políticos que seguiram contribuíram para o distanciamento entre cidadãos e política, ainda de acordo com Figueiredo. “Depois disso, o Brasil elegeu Dilma Rousseff, que propôs um projeto e fez exatamente o contrário quando assumiu. Em seguida, o impeachment, e o governo de Michel Temer com as delações do Joesley Batista. Isso gera um estímulo político muito ruim, um clima de profunda descrença nas instituições”, argumenta.
Ele pondera que ainda assim é possível fazer ressalvas sobre o governo do presidente Michel Temer. “É um governo extremamente impopular e forte, isso não é comum. A força desse governo não deriva da opinião pública, ela advém da capacidade que o presidente tem de montar uma grande coligação no Congresso Nacional”, explica. “[Os ex-presidentes] Lula, com 82% de aprovação, e Fernando Henrique Cardoso, logo depois de implementar o Plano Real, não foram capazes de montar uma base no Congresso tão ampla.”
Sobre as campanhas eleitorais e seu caráter que poderia ser propositivo, trazendo mais propostas para o debate, ele afirma que se a lei não limitar o uso da comunicação e da publicidade, os marqueteiros responsáveis vão usar os melhores instrumentos que têm à disposição para convencer o eleitor que seu candidato é o melhor. “Para um eleitorado muito pouco escolarizado, isso tem um efeito grande. O Brasil passou, nos dois governos do ex-presidente Lula, por um período de euforia, e a memória daquele período é bem recente”, explica.
Já acerca da reforma da Previdência Social, ele afirma que o Planalto errou em não dramatizar o suficiente para que o povo olhasse a reforma com mais atenção. “O governo deveria ter vendido a reforma da Previdência como algo que vai acabar com os privilégios das mega-aposentadorias do setor público. Não foi isso que aconteceu”, diz. “As corporações, que são mais organizadas e têm mais poder de verbalização e comunicação, conseguiram passar para a sociedade que quem ia perder eram os pobres”. Ainda assim, para o entrevistado, essa reforma é fundamental para o Brasil: “Estima-se que em dez anos haja uma economia de R$ 600 bilhões, caso a reforma passe”.
Figueiredo também questiona se o governo Temer ainda será mal avaliado em 2018. “Se a gente olhar o que vem acontecendo na economia, a inflação está mais baixa, há menores juros e investimentos voltando. Se a vida real estiver melhorando, acho que não vai ser tão ruim ter ficado do lado desse governo nesse período”, afirma. “Estar do lado do Temer, hoje, é uma coisa; e daqui a um ano, será outra. Por isso que é complicado fazer longas projeções no Brasil: aqui, dois meses é quase uma eternidade”.
Sobre a possibilidade de uma reforma política, ele crê que os brasileiros tenham uma busca por reformas revolucionárias. “Criaria-se uma engenharia institucional que condicionaria o comportamento dos políticos em consequência do arranjo que os próprios políticos conseguiriam montar – isso não aconteceu em nenhum lugar do mundo, nem vai acontecer aqui. O que podemos fazer é evoluir o sistema político como temos feito. É obvio que os políticos não vão votar algo que os prejudique”, conclui.
Confira a entrevista completa:
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