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Economia

Real 25 anos: população se convenceu de que a estabilidade da moeda é incontestável

Fernando Henrique Cardoso, Rubens Ricupero e Persio Arida rememoram a concepção do plano e sua implementação

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Real 25 anos: população se convenceu de que a estabilidade da moeda é incontestável

Figuras por trás da concepção do plano e da sua implementação comentam que estabilização monetária foi resultado de uma "engenharia política"
(Arte/Tutu) 

Lançado há 25 anos, o Plano Real não só pôs fim ao problema da hiperinflação brasileira como instituiu uma conquista que a população não cogita perder: a estabilidade da moeda. Para rememorar o advento do real, o UM BRASIL – iniciativa da FecomercioSP – reuniu três personalidades que tiveram papel importante na criação e no processo de implementação da moeda: o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, o diplomata e ministro da Fazenda à época do lançamento do real, Rubens Ricupero, e o economista reconhecido como um dos idealizadores do plano, Persio Arida.

Segundo o ex-presidente, embora se atribua o desenvolvimento do real ao paper “Larida” – artigo científico de Persio Arida e André Lara Resende –, o que, de fato, tornou o plano um sucesso foi o trabalho em conjunto da equipe econômica e a comunicação do governo com a população. “Não foi só o paper, não, isso é conhecido. Houve uma reunião no Banco Central de São Paulo em que você [Arida] disse que tudo tinha de ser claro, tinha que ser antecipado, ao contrário dos planos até aquela época, que eram de surpresa. Eu agarrei a ideia”, conta Fernando Henrique, que, quando ministro da Fazenda (1994), montou a equipe econômica e liderou o processo de lançamento da Unidade Real de Valor (URV), etapa que antecedeu o real.

Os debatedores comentam que o plano foi na contramão dos antecessores por não contemplar políticas de congelamento de preços, deixando o presidente Itamar Franco bastante reticente sobre o funcionamento.

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“Sabe que 72 horas antes [do lançamento do real, em 1º de julho de 1994], ele [Franco] me telefonou. Foi um telefonema dramático. Ele me disse: ‘O senhor de fato está convencido de que não precisa de uma tabela de congelamento?’”, conta Ricupero. “Itamar tinha a ideia fixa de que um plano era possível. Ele não sabia muito bem como, acho que, na cabeça dele, era mais uma repetição do Plano Cruzado, que tinha provocado aquela imediata popularidade”, complementa o ex-ministro da Fazenda.

Embora coautor do paper que idealizou o real, Arida pondera que o êxito de nenhuma moeda está contido em um artigo científico. “O chamado ‘Plano Larida’, que foi a base, era um paper. As pessoas acham que, para que um plano de estabilização funcione, basta ter a ideia. É um equívoco monumental. Plano de estabilização, antes de mais nada, é uma obra de engenharia política. Você precisa convencer, ter leis que aprovem e apoio da população e do Congresso. Então, é uma engenharia política complicada”, frisa o economista, que foi presidente do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A despeito de ser bancado pelo dream team (“time dos sonhos”) da economia brasileira, nas palavras de Ricupero, o real enfrentou resistências da imprensa, dos partidos de oposição e até do Fundo Monetário Internacional (FMI), em função de sucessivos planos de estabilização fracassados. Para evitar que a nova moeda tivesse o mesmo fim das anteriores, Fernando Henrique conta que o governo Itamar Franco fez um trabalho que o “público não vê”: a renegociação das dívidas externa e interna do País, a fim de impedir que a inflação disparasse novamente.

“Falei com os principais líderes sindicais na época. Eles entendiam, mais iam à imprensa e diziam o contrário por razões políticas e, também, porque não acreditavam que fosse dar certo. O mais importante foi voltar a ter confiança. Isso é um papel importante que o Poder Público e eu cumprimos”, ressalta o ex-presidente.

Para os debatedores, a postura anti-inflacionária da população evidencia o legado do real. “Quando [a inflação] bateu 10%, aquilo foi ligado à perda de popularidade da Dilma. Você vê: 10% foram suficientes para tirar a legitimidade política de um governo. Esse valor é forte. Enquanto a democracia no Brasil for, de fato, verdadeira, o sistema eleitoral assegura que, se brincar com a moeda, ele se autocorrige”, comenta Arida.

“O Plano Real, de fato, foi uma mudança qualitativa. Acho que a própria população se convenceu de que estabilidade de preço e uma moeda são conquistas que não se pode contestar”, frisa Ricupero.

 
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Confira a íntegra do debate a seguir:

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