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Editorial

Banco Central muda estratégia; cenário justifica

Economista analisa como as consequências da política monetária e expectativas para 2022 no mercado interno e externo impactam na taxa básica de juros

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Banco Central muda estratégia; cenário justifica

“Segurar um pouco a mão” não parece ser uma opção equivocada de agora em diante, escreve Sacconato
(Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

O Banco Central (Bacen), em reunião no dia 2 de fevereiro, aumentou a taxa básica de juros, a Selic, em mais 1,5%, levando-a a 10,75% ao ano (a.a.). É a oitava alta consecutiva da taxa básica de juros, desde o menor valor durante a pandemia, que foi de 2% a.a. A novidade é que a autoridade monetária deixou subentendido que na próxima reunião, em março, diminuirá a intensidade dos aumentos para 1%, e passará a taxa para 11,75%.

Vários economistas estão criticando este arrefecimento, dizendo que o Bacen está se arriscando muito e deveria manter o ritmo anterior. Quem lê esta coluna regularmente sabe que criticamos o banco central norte-americano justamente por ser muito condescendente com a inflação e demorar para responder aos aspectos inflacionários. Este, realmente, não é o caso do Brasil.

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Parece que o Bacen tem razões bem fundamentadas para esta inflexão. É importante lembrar, não há queda ou manutenção da taxa, apenas a diminuição no ritmo de subida. Vários argumentos estão a favor da decisão do colegiado.

O primeiro diz respeito às consequências da política monetária. É comum, em trabalhos do tipo, calcular o tempo que uma subida de juros demora para surtir efeito no freio da demanda. A maioria chega a conclusões próximas: o tempo é de seis a nove meses, ou seja, ainda estamos experimentando o resultado das subidas de juros de agosto ou de setembro do ano passado. Ainda temos muito efeito acumulado para sentir o esfriamento da economia.

O segundo diz respeito ao cenário de 2022. Mercado de trabalho fraco, renda real caindo, inflação ainda relevante e juros em alta. Não dá para imaginar uma explosão de demanda que possa gerar arroubo inflacionário. Além disso, todas as variáveis da economia real já sentem a desaceleração, e isso deverá se intensificar nos próximos meses.

Outro fator favorável é o cenário externo. Não devemos ter grandes aumentos de juros nos países desenvolvidos neste ano, o que facilita o trabalho da autoridade monetária brasileira, pois o diferencial de juros continuará alto. E não para aí: inflação é a subida de preços, e não o nível de preços.

Com os valores de commodities lá no alto, a probabilidade de nos depararmos com novos aumentos sensíveis diminui muito. Isso sem contar que as grandes economias, que puxam muito este índice, não vão crescer tanto quanto em 2021.

É óbvio que riscos sempre existem, principalmente num ano eleitoral, que pode dar muito combustível ao câmbio e a ações não muito responsáveis no campo fiscal.

Contudo, não existe ação sem risco na economia. O Bacen já fez um forte ajuste, elevando em mais de cinco vezes a taxa e, ainda, acenando com novos aumentos. Agora, “segurar um pouco a mão” não parece ser uma opção equivocada. Tem apoio de toda a conjuntura.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 11 de fevereiro de 2022.

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