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Economia

Brasil deve aproveitar bônus demográfico para bancar idosos no futuro

Fenômeno vivido pelo país pode aumentar poupança e produtividade, mas impõe desafios para Previdência, economia, educação e recursos humanos

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Brasil deve aproveitar bônus demográfico para bancar idosos no futuro

Por Filipe Lopes

Até 2018, a faixa etária de 30 a 39 anos – a mais produtiva e consumidora - será a maioria da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso terá impacto na economia em geral, pela movimentação que o consumo de bens e serviços gera; no mercado de trabalho, pela grande oferta de mão de obra; nas previdências pública e privada, pelo aumento da arrecadação; e no mundo corporativo, já que essa parcela da população conta com profissionais experientes e que estão no auge da produtividade. Aproveitar o momento de bônus demográfico é o desafio do Brasil. Segundo o diretor da consultoria Vecchi Ancona, Paulo Ancona Lopez, é preciso infraestrutura, leis, normas e condições políticas e financeiras para se aproveitar esse potencial.  

Atualmente, a faixa de 30 a 39 anos representa 16,4% da população total ou 33,4 milhões de brasileiros. Apesar de não ser a maioria, essa camada é a maior entre todas as outras. Uma população com este perfil significa que, proporcionalmente, há mais gente produzindo do que pessoas dependentes deste grupo. Mas, segundo o IBGE, em 2050, cerca de 30% da população terá mais de 60 anos. “São necessárias medidas para que a Previdência Social não dependa apenas da alta de impostos para se manter. Caso contrário, o governo não terá como pagar esses futuros aposentados, pois não terá população ativa para sustentar a Previdência”, aponta o assessor técnico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Fábio Pina.

A questão preocupa, já que segundo dados do Ministério da Fazenda, o déficit da previdência em 2013 foi de R$ 49,9 bilhões e a projeção para 2014 era de um rombo de R$ 41,4 bilhões – 0,8% do PIB. Para o diretor da empresa Direto Contabilidade, Gestão e Consultoria, Silvinei Toffanin, a inserção deste pessoal no regime aumentaria a arrecadação, mas não seria suficiente para suprir o déficit. Além disso, há o fator previdenciário, cujo cálculo é baseado na expectativa de vida da população – que passou de 74,6 para 74,9 anos, alterando o cálculo. Agora, um segurado com 55 anos de idade e 35 anos de contribuição que requerer o benefício terá de contribuir por mais 79 dias corridos para manter o mesmo valor da aposentadoria anterior à medida. É uma realidade que não se mostra interessante para os trintões, que passam a optar pela previdência privada para planejar seu futuro. “O benefício do INSS, que seria o oficial, torna-se complementar e a privada torna-se a oficial”, afirma Toffanin. Segundo ele, o fim do fator poderia ser um atrativo a esses contribuintes.

O grande trunfo para aquecer a economia brasileira é o consumo doméstico. O perfil do consumidor trintão, porém, é diferente daquele que emergiu para a classe C. Pesquisa realizada no ano passado com 1.245 brasileiros, pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelo portal Meu Bolso Feliz, registrou que 31% da população economicamente ativa (44,8 milhões de consumidores) busca custo x benefício, compra apenas o necessário, pesquisa preços, controla os impulsos consumistas, pensa no futuro e poupa mais. Para Pina, com os trintões o mercado terá uma mudança no perfil de consumo, já que esse público é mais maduro, toma mais decisões e consome produtos que lhe proporcionam bem-estar e que não tenham apenas um bom preço. Para o presidente da agência de pesquisa de mercado e inteligência Hello Research, Davi Bertoncello, as empresas já estão preparadas para atender esse público, que será maioria em 2018. Ainda segundo ele, a “corrida pelo consumidor” fará com que as companhias foquem suas ações em perfis específicos de público, como, por exemplo, as de bebida energética já fazem, quando associam suas marcas aos esportes de alta performance.

Entretanto, pode faltar poder de compra a esses jovens. Segundo o coordenador do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário Newton Paiva, de Belo Horizonte (MG), Leonardo Bastos, a diferença entre a carga tributária paga pelos contribuintes e a qualidade dos serviços públicos enfraquece o poder de consumo da população ativa. “Temos uma carga tributária superior a 40%, mas não recebemos serviços de qualidade do governo. Então os trintões terão de gastar muito para terem o básico – saúde, educação, transporte, moradia, alimentação, entre outros – e, com isso, o crescimento do consumo será baixo”, afirma. 

No ambiente profissional, segundo o gerente de transição de carreira da consultoria Thomas Case & Associados, Gabriel Toschi, os trintões podem contribuir “tanto para desenvolver boas soluções estratégicas e criativas como para manter um estado de energia elevado em suas atribuições como executor”, observa, apontando ainda que esses profissionais deverão chegar mais cedo à alta cúpula das companhias, acelerando os planos de carreira e aumentando o grau de exigência para a contratação. A retenção de talentos também é uma preocupação das empresas, já que os trintões buscam desafios profissionais e pessoais. 

O cenário indica que o impacto da predominância da população na faixa dos 30 anos pode ser bastante positivo. Resta saber se o Brasil criará condições para que isso aconteça. 

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