Negócios
26/02/2021Comércio eletrônico e respeito às regras de proteção de dados são diferenciais para fazer negócios na União Europeia
Empresas brasileiras podem conquistar o consumidor europeu por meio de marketplaces e da oferta de serviços virtuais
Pandemia afetou o comportamento do consumidor europeu, potencializando as vendas digitais
(Arte/Tutu)
Por Eduardo Vasconcelos
Assim como ocorreu no Brasil, o comércio eletrônico cresceu significativamente na Europa em 2020, em função da pandemia de covid-19, e deve continuar se expandindo nos próximos anos. Isso representa uma oportunidade para empresas brasileiras ingressarem nos mercados dos países-membros da União Europeia (UE). Contudo, para ter uma experiência internacional bem-sucedida, os estabelecimentos de comércio e serviços precisam cumprir à risca os preceitos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), tendo em vista que a legislação nacional foi criada com base na norma do bloco europeu.
As oportunidades para pequenas e médias empresas na UE – bloco formado por 27 países-membros – foram discutidas em um webinário realizado, na quarta-feira (24), pela Fecomercio Internacional, unidade de negócios da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) que promove e articula relações empresariais internacionais, em parceria com a Delegação da União Europeia no Brasil.
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No encontro, os palestrantes salientaram que a pandemia afetou o comportamento do consumidor europeu, impelindo-o às plataformas digitais, o que valorizou a procura por serviços virtuais do setor de saúde e bem-estar, além de abrir espaço para vendas de mercadorias por meio dos marketplaces. Também foi ressaltada a importância do cumprimento das leis de proteção de dados como diferencial competitivo no comércio eletrônico.
Tendências do mercado europeu
No evento, o presidente da Associação do Comércio Eletrônico e da Publicidade Interactiva (Acepi) em Portugal e membro do Conselho de Administração da Ecommerce Europe (Associação Europeia de Ecommerce), Alexandre Nilo Fonseca, destacou que “o comércio eletrônico vai continuar crescendo de forma acelerada” na UE.
Além disso, elencou as tendências dos próximos anos do comércio europeu: abordagem omnichannel; aumento do fluxo de produtos oriundos de fora do bloco; mudança para uma economia mais sustentável; ascensão dos marketplaces; e vendas efetuadas pela marca ao consumidor de forma direta, sem a intermediação de um varejista.
Segundo Fonseca, 87% da população europeia (o equivalente a 500 milhões de pessoas) utilizam internet, e 67% (390 milhões) fazem compras virtuais, das quais 35% são transfronteiriças. “Espera-se que o crescimento das vendas, no pós-pandemia, tenha maior impacto na importação e na comercialização de produtos, e não tanto em serviços”, indicou.
O embaixador da União Europeia no Brasil, Ignácio Ibáñez, chamou a atenção para o fato de existirem comunidades brasileiras em diversos países europeus, que anseiam por produtos e serviços de sua terra natal. “Apesar da distância entre o Brasil e a Europa, a pandemia mostrou que a logística tem capacidade de responder a novos desafios. (...) As empresas brasileiras também devem considerar a possibilidade de participar de processos de compras públicas promovidas por países-membros da União Europeia”, aconselhou Ibáñez.
Proteção de dados
Em 2018, a União Europeia implementou o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) – também conhecido como General Data Protection Regulation (GDPR) –, legislação pioneira a respeito do uso e da privacidade de dados pessoais. De acordo com Henrique Martins, ex-presidente de Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) de Portugal, as boas práticas de proteção de dados já são um diferencial competitivo na União Europeia.
“Privacidade é uma vantagem competitiva. Não é apenas uma coisa que tem de ser feita para não gerar multa. É algo que tem que se fazer para criar um produto ou serviço mais sofisticado”, frisou Martins.
Ele também afirmou que a pandemia evidenciou que “saúde e bem-estar são os negócios do futuro”, dos quais muitos podem ser oferecidos remotamente de qualquer parte do mundo, desde que respeitadas as regras de tratamento de dados pessoais. “Não há razão para pensar que negócios como terapias para melhorar o sono ou parar de fumar precisam estar em território europeu para chegarem ao consumidor”, pontuou o ex-presidente do SPMS.
O advogado especialista em Direito Digital e Proteção de Dados e consultor da FecomercioSP, Rony Vainzof, traçou um paralelo entre a LGPD e o RGPD. Segundo ele, as empresas brasileiras com operações comerciais com a Europa, antes mesmo de se adequarem à norma brasileira, que entrou em vigor no ano passado, vinham sendo pressionadas a se amoldarem ao RGPD.
“Agora, quando dizemos que o Brasil tem uma lei equivalente ao RGPD, o mundo inteiro sabe qual é o nível da legislação brasileira, porque o RGPD é conhecido em todo o planeta”, explicou Vainzof.
Considerações sobre as relações comerciais
O vice-presidente da FecomercioSP e presidente do Conselho de Relações Internacionais (CRI) da Entidade, Rubens Medrano, ressaltou que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que aguarda aprovação dos parlamentos dos países-membros de ambos os blocos, tem potencial para impulsionar a recuperação econômica no pós-pandemia.
“Quem irá potencializar e operacionalizar os benefícios desse acordo são as empresas. Hoje, no Brasil, o universo de empresas que atuam no comércio internacional se resume a grandes e médias. Precisamos ampliar esse leque para que pequenas empresas participem. Na Europa, os pequenos negócios têm papel significativo no comércio internacional”, afirmou Medrano.
O ministro-conselheiro da Delegação da União Europeia no Brasil, Carlos Oliveira, reforçou que não há mais tempo para negligenciar as oportunidades do ambiente digital e apontou que “há uma proximidade cultural significativa” entre o País e o bloco europeu. “Um dos aspectos mais importantes para o cenário pós-coronavírus é a forma como podemos estruturar novas oportunidades de negócios e quebrar paradigmas”, declarou.
A secretária-adjunta de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, embaixadora Débora Barenboim-Salej, sinalizou que a capital paulista tem adotado políticas de preservação ambiental também como forma de estreitar a relação com parceiros europeus. “São Paulo é a cidade com o maior número de empresas de origem europeia no mundo. Os vínculos são seculares e estão enraizados na nossa cultura”, enfatizou.
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