Como é possível manter sob controle tudo o que se faz e se coloca de pé, mundialmente, no campo da inovação? Acompanhando o movimento do ecossistema de startups no Brasil é muito comum nos depararmos com propostas de negócios— a maioria no plano das ideias e voltadas ao universo online— muito parecidas entre si. Não raro, a imprensa especializada direciona sua atenção para modelos de negócios considerados inovadores,quando,na verdade, iniciativas semelhantes já estão sendo desenvolvidas em outros países há muito tempo. 

No entanto, o que coloca gestores, investidores e todo o ecossistema empreendedor em estado de alerta é a relevância. Então, a pergunta seria: “o que é necessário fazer para que não se gaste tempo e dinheiro com projetos que possuem pouca ou nenhuma relevância e que, por consequência, não terão sucesso no futuro? ”Grande parte dos novos negócios no setor é concebida por brilhantes desenvolvedores de softwares, técnicos de produtos e outros profissionais que apostam na tecnologia como principal instrumento responsável por um empreendimento inovador, porém, sem conexão com o mercado. Se sua startup foi desenvolvida sob esse prisma,é aconselhável reavaliar o modelo e buscar um sócio com visão mais abrangente. 

Outro ingrediente não menos importante é o planejamento, em que erros são muito comuns. Os projetos já devem nascer em linha com as tendências de mercado, o que implica no conhecimento sobre o consumidor e quais os caminhos para se chegar até ele. Para isso, é fundamental que a fase de testes e pesquisas seja rigorosamente cumprida. Essa corrida “em busca do ouro” para a apresentação de uma nova ideia deve ser cadenciada. Como exemplo, podemos citar o crowdfunding no Brasil. A atividade, que não supera 0,3% do mercado mundial e, portanto, tem espaço para crescer muito mais, necessita de um planejamento detalhado, de formação de alianças e deawareness, antes que o botão seja aperta do para que, assim, surja um novo projeto em uma plataforma especializada. Essa preparação, dependendo do caso, requer um período de três a seis meses. 

Os próprios movimentos de identificação e premiação de projetos vencedores em concursos enfrentam dificuldades. Recente concurso internacional, em São Paulo, selecionou 20 startups para a etapa estrangeira. Um dos concorrentes, convidado às pressas para cobrir uma falta, acabou sendo, por mérito, um dos finalistas. Esse é um exemplo do desperdício a inovação.

Em outra frente, inovações de ruptura podem modificar mercados inteiros. Para que não sejam prejudicados, muitos setores precisam se articular para inovar em outras áreas e não se tornarem irrelevantes ou até mesmo serem aniquilados. Cito, como exemplo, o driverless car (ou “carro sem motorista”). Google e outras empresas de ponta já têm equipes e protótipos desses veículos nas ruas. Quais as implicações da inovação? Um carro sem motorista pode atender a mais de um usuário e ser mais produtivo. O compartilhamento de veículos muda a indústria de automóveis, que precisa pensar em novos modelos de negócios. Um menor número de carros nas ruas melhora o ambiente das cidades, reduz o número de acidentes e altera positivamente grau de risco e custos com seguros. É certo que nada disso acontece da noite para o dia, mas as mudanças já ocorrem. Se eu tivesse uma empresa de seguros ou de planos de saúde investiria desde já para inovar em outros ramos. Inovação gera inovação. 

Adolfo Menezes Melito é presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da FecomercioSP.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 19/02/14, pág. 23.