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Editorial

O grande erro do Fed e a nossa preocupação para 2022

Inflação: o maior desafio para a economia mundial

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O grande erro do Fed e a nossa preocupação para 2022

Com uma aparente mudança na postura das autoridades estadunidenses, há expectativa de aumento de juros neste trimestre
(Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

O maior desafio da economia norte-americana – e, talvez, do mundo –, em 2022, será a inflação. O planeta, enfim, volta a lidar com um problema que estava adormecido desde o início do século: as sucessivas injeções de trilhões e trilhões de dólares dos bancos centrais, principalmente dos Estados Unidos, vão cobrar o seu preço a partir deste ano.

O último dado do CPI, o IPCA estadunidense, assustou o mercado ao atingir o patamar de 7% anual. O core, que exclui alimentos voláteis e energia, bateu 5,5% – é o maior valor desde junho de 1982, com a diferença de que, naquela época, a inflação estava em queda de um pico de mais de 14%. Vale lembrar que a meta do governo norte-americano, que usa o core como base, é de 2%, ou seja, hoje, o nível está quase três vezes maior que a meta.

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A inflação chegou a este nível por causa de um erro grotesco de política monetária do banco central daquele país. As causas poderiam ser divididas em algumas fontes. A primeira: a quebra das cadeias produtivas mundiais em razão da pandemia, gerando choque de oferta e aumento de preços. A segunda: a inflação causada pelo choque nos valores das commodities, tanto de energia quanto de alimentos. E a terceira: o aquecimento de demanda causado pelos trilhões injetados na economia pelo governo ao longo de dois anos, além da política monetária absurdamente expansionista praticada pelo Fed no período. Para se ter uma ideia, o banco realizava compras de US$ 150 bilhões mensais de títulos do governo e privados. Todo o estoque adicional de moeda está batendo, atualmente, em US$ 5 trilhões.

Aqui vem o grande erro do Fed: apesar das evidências de um mercado de trabalho extremamente aquecido, com o retorno das variáveis macroeconômicas a níveis muito maiores do que antes da pandemia, bem como o fato de que 50% dos empresários afirmam que vão aumentar os preços nos três próximos meses, o banco insistiu que se tratava de uma inflação temporária, de choque. E mais: continuou comprando, todo mês, os US$ 150 bilhões de títulos, inundando ainda mais o mercado com dinheiro novo. As evidências se acumulam. Por exemplo, algumas franquias do McDonald’s já estão oferecendo salário acima de US$ 3 mil mensais para novos funcionários, com desemprego caminhando forte para baixo dos 4%.

O argumento do “é temporário” foi usado praticamente durante todo o ano de 2021. Assim, a inflação foi tomando corpo, até atingir os 7% atuais. É interessante citar que, talvez, este valor seja ainda mais alarmante do que os 10% do Brasil, dado que aqui não temos aquecimento do mercado laboral para colocar “lenha na fogueira”.

Agora, com uma aparente mudança na postura das autoridades estadunidenses, há expectativa de aumento de juros já para este trimestre. Este erro deve custar um acréscimo maior na ponta final, o que não deve acontecer em 2022. Desta forma, espera-se um aumento significativo na taxa principalmente a partir de 2023, a fim de compensar a demora pela retirada dos estímulos e o equívoco de análise do Fed.

Sabemos que esses aumentos das taxas naquele país “sugam” os dólares do resto do mundo, fazendo com que tenhamos de compensar ou com aumentos dos juros aqui ou com câmbio ainda mais depreciado. O momento de liquidez excessiva já acabou e não o aproveitamos. De agora em diante, precisaremos conviver com situações mais restritas de crédito e moeda ao redor do globo. Este novo cenário torna ainda mais urgentes os ajustes fiscal e de expectativas, sob o risco de perdermos o controle da conjuntura interna.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP)

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 21 de janeiro de 2022.

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