Economia
24/09/2015Para economistas, ajuste fiscal não é suficiente para o retorno do crescimento
Reunidos na FecomercioSP, especialistas falaram sobre o ajuste fiscal e a redução do número de ministérios ao debater soluções para a crise econômica
Rachel Cardoso
O ajuste fiscal não sai do noticiário e das análises, mas não tem sido devidamente tratado. Nesse sentido, durante o debate “O Ajuste Fiscal, Emprego e Produtividade”, promovido pela FecomercioSP, especialistas destacaram dois aspectos fundamentais: o primeiro é que mesmo com as consequências do ajuste sobre a atividade econômica a curto prazo, ele é imprescindível. O segundo é que ele sozinho não será suficiente para a retomada sustentável do crescimento a taxas razoáveis.
“O desafio é trazer de volta o crescimento sem reforma, com pouco investimento, inflação elevada e desemprego em alta, um quadro que traz dificuldades para as empresas”, disse o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e sócio da consultoria MB Associados, durante a abertura do evento.
As projeções da MB Associados apontam que só neste ano a perda líquida de emprego no mercado formal, medido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), deve chegar a 160 mil vagas. O crescimento da massa salarial real medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) deverá ser negativo pela primeira vez em mais de 10 anos, da ordem de -2,5%.
Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador de Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV), diz que fazer o ajuste não é só controlar gastos, mas mudar o equilíbrio da economia com problema crônico de produtividade e que já esgotou a inclusão da força de trabalho como força de crescimento.
"Assim, os aumentos de salário dos trabalhadores menos qualificados geravam demandas pelos serviços que empregavam mais este grupo. Essa dinâmica só não continuou porque é impossível um país dar reajuste de salário acima da produtividade para sempre", afirmou Barbosa.
Os economistas notam que mercado de trabalho brasileiro tem se mostrado mais flexível do que o esperado. Pela primeira vez em uma década, a variação anual na folha salarial está caindo.
O professor do Insper Ricardo Paes de Barros, coordenador do Núcleo de Ciência pela Educação no Centro de Políticas Públicas, ressalta a prioridade nas negociações salariais deve ser a de preservar os ganhos dos últimos anos entre os mais vulneráveis. Paradoxalmente, a ainda altíssima desigualdade brasileira faz com que isso não seja tão difícil.
Como os 50% mais pobres (100 milhões de brasileiros) têm apenas 15% da renda nacional, é possível – pelo menos na teoria – fazer com que a outra metade absorva a queda do PIB per capita sem maiores consequências para o equilíbrio macroeconômico.
Veja a reportagem na íntegra, publicada na edição nº 32 da revista Conselhos.
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