Sustentabilidade
09/04/2025Seis em cada dez empresas paulistas sentem impactos climáticos, mas maioria tem dificuldades de adotar práticas sustentáveis
Altos custos com medidas verdes e falta de capacitação técnica impedem ações das empresas, aponta FecomercioSP; Entidade lançará Agenda Verde nesta quinta (10)

De cada dez empresas paulistas, seis (64,5%) foram impactadas de alguma forma pelas mudanças climáticas no último ano [gráfico 1] — desde chuvas excessivas que fizeram com que estabelecimentos interrompessem operações até o calor intenso que afetou cadeias de fornecimento inteiras, por exemplo. Esses dados são de uma sondagem do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), às vésperas do lançamento da sua Agenda Verde.
Não é à toa, então, que praticamente metade (44,5%) dos negócios relate prejuízos financeiros em decorrência dos efeitos adversos do clima [gráfico 2], como queda nas receitas pelos dias parados ou reposição de mercadorias perdidas, entre vários outros casos.
A sondagem foi realizada com 200 empresas do Estado de São Paulo entre os dias 27 de fevereiro e 21 de março.
Em 2024, vale dizer, o Estado experimentou a pior seca desde 1982, no período entre os meses de maio e agosto, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O órgão chegou a observar que 60% das cidades estavam em seca extrema na metade do ano. Já em outubro passado, por causa das chuvas fortes, a capital ficou muitos dias sem fornecimento de eletricidade, somando um prejuízo de R$ 2 bilhões para as empresas. No começo de 2025, as tempestades voltaram a prejudicar o comércio de áreas centrais de muitos municípios paulistas.
No primeiro semestre do ano passado, para lembrar, a FecomercioSP fez esse mesmo estudo na cidade de São Paulo e descobriu que metade (51%) dos negócios paulistanos vinha sofrendo impactos climáticos, dos quais cerca de um terço (35%) tinha somado prejuízos.
Ainda assim, mesmo diante de números elevados — e do fato de a maioria (61,5%) dos entrevistados classificar a questão climática como “muito relevante” —, o empresariado ainda lida com dificuldades de investir em medidas mais sustentáveis. Os dados da Federação apontam que 58% dos negócios no Estado não contam, hoje, com qualquer tipo de ação focada na redução de emissões dos gases que geram o efeito estufa [tabela 3].
[GRÁFICO 1]
Quanto o seu negócio foi impactado por fatores climáticos adversos no último ano?
Sondagem com 200 empresas — Março de 2025
Fonte: FecomercioSP
[GRÁFICO 2]
O seu negócio teve algum prejuízo financeiro por causa desses fatores climáticos?
Sondagem com 200 empresas — Março de 2025
Fonte: FecomercioSP
[GRÁFICO 3]
Quanto o seu negócio está disposto a investir, futuramente, em reduçãoo de emissões?
Sondagem com 200 empresas — Março de 2025
Fonte: FecomercioSP
Na leitura do Conselho de Sustentabilidade da Entidade, isso acontece porque o empresariado ainda não tem consciência da própria força para colher melhorias ambientais coletivas. Além disso, a categoria não se dá conta de que essa é uma demanda inequívoca dos seus consumidores. Há a percepção, na verdade, de que os clientes até se interessam pela pauta, mas não topam pagar mais por produtos associados a temas sustentáveis.
Mas não é só isso: a maior parte das empresas ouvidas no estudo (40%) diz que faltam recursos financeiros para investir em práticas mais sólidas, e outras 26% admitem não ter conhecimento técnico suficiente para ações do tipo [tabela 3]. São gargalos típicos de economias emergentes, em que a transição verde esbarra em limitações de capital e em capacitação.
Em razão desses fatores, a FecomercioSP acredita que há um descompasso entre a conscientização ambiental que o empresariado tem hoje e a internalização prática da sustentabilidade nos próprios modelos de negócio.
Práticas de baixo custo são mais comuns
Isso se vê também no universo de 15,5% de negócios que apresentam medidas, mas sem metas estipuladas para reduzir gases, enquanto outros 15% têm objetivos claros, porém não são de conhecimento público. Somadas as variáveis, 42% das empresas adotam alguma ação atualmente — o que não é de todo ruim.
No entanto, quando questionadas acerca das práticas para a descarbonização do negócio, a maioria cita uma ação bastante simples: destinação de resíduos orgânicos à compostagem, feita por 69% dos negócios que disseram adotar alguma ação sustentável. O uso de etanol em vez de gasolina, na frota, também é muito mencionado (79,8%). Ambas as práticas são excelentes, porém de baixo custo, diferentemente da geração da própria energia renovável ou do uso de veículos híbridos ou elétricos, por exemplo.
No âmbito da economia circular — em que a FecomercioSP atua há bastante tempo com negócios de vários nichos e tamanhos —, existe mais adesão, mas somente no campo dos resíduos. A sondagem mostra que, das empresas entrevistadas, 28,6% fazem a triagem para a reciclagem e 13,9%, para a compostagem. Há ainda aquelas que levam itens recicláveis a ecopontos (18,1%) ou que participam de programas de logística reversa (17,4%).
Na avaliação do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, todos esses números revelam um cenário de transição em curso, a despeito da ambiguidade que persiste em relação às mudanças climáticas. De um lado, há o reconhecimento de que são reais e têm efeitos concretos sobre os negócios. Mas, por outro, existem muitos gargalos que impedem uma atuação mais efetiva — que vão desde dificuldades envolvendo os custos operacionais até leis que não favorecem essa transformação de forma mais efetiva e rápida.
Por tudo isso, o avanço rumo a uma economia de baixo carbono, na agenda do País há tempos, dependerá de políticas públicas integradas, além de mecanismos de financiamento verde e investimentos em capacitação técnica. Em paralelo, é preciso conscientizar os consumidores da própria relevância nesse processo — e de como, em parte, virá deles a mudança ambiental que o Brasil e o mundo precisam.
FecomercioSP lança Agenda Verde
A FecomercioSP lança, nesta quinta-feira (10), a sua Agenda Verde, elencando um conjunto de objetivos (veja todos aqui) que a Entidade entende como as prioridades ambientais que o Brasil deve assumir até 2030, envolvendo aceleramento de políticas para transição energética, ajustes na recém-aprovada regulação do mercado de carbono e desenvolvimento de uma economia mais circular até zerar o desmatamento ilegal, que já faz parte do escopo das metas do governo federal.
O evento vai reunir nomes do setor privado, da sociedade civil organizada e do Poder Público, na sede da Federação, em São Paulo. Dentre os presentes, estão o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, e gestores de empresas como Assaí Atacadista, Carrefour, Leroy Merlin, Pernambucanas e Casas Bahias. Confira a programação aqui.
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