Negócios
10/03/2022Turismo: em dois anos de pandemia, setor de viagens corporativas perde cerca de R$ 100 bilhões, equivalente a um ano inteiro de faturamento
FecomercioSP e Alagev lançam levantamento com o objetivo de suprir escassez de dados necessários às análises empresariais
Para este ano, a tendência é que o setor consiga avançar, mesmo com os problemas da ômicron em janeiro
(Arte: TUTU)
Um levantamento inédito da FecomercioSP, em parceria com a Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev), identificou que, nos últimos dois anos, houve uma perda de quase R$ 100 bilhões no faturamento do setor de viagens corporativas – equivalente aos ganhos de um ano inteiro em condições normais.
Fruto de uma parceria inédita, o Levantamento das Viagens Corporativas (LVC) busca suprir a escassez de dados econômicos no turismo. O LVC será útil às empresas não somente para acompanharem o desempenho ao longo de um determinado período de tempo, mas também para entenderem a dimensão da atividade e poderem trabalhar com as demandas ao lado do setor público, com embasamento em dados técnicos.
O índice foi lançado durante o evento Lacte 17, realizado pela Alagev em março, que teve a presença da presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Mariana Aldrigui, e do assessor econômico da Federação, Guilherme Dietze.
“A forte perda de faturamento no segmento de viagens corporativas indicada pelo novo índice é um instrumento importante para mostrarmos a necessidade de apoio ao setor. Nesta edição do Lacte, o Conselho de Turismo esteve representado exatamente no painel sobre Advocacy, em que foi possível detalhar os desafios de elevar a qualidade das discussões em turismo no âmbito Legislativo, onde temos um longo caminho a trilhar, mas também vitórias a comemorar, como nossa recente e importante conquista de um novo prazo para os reembolsos em casos de cancelamento”, ponderou Mariana.
Para chegar à perda potencial total, de quase R$ 100 bilhões, o LVC diminuiu os resultados de faturamento de cada um dos dois últimos anos (2020 e 2021) pela média do faturamento dos cinco anos anteriores.
No ano passado, o setor de viagens corporativas faturou R$ 48,6 bilhões, um forte crescimento de 46% em relação a 2020. O resultado positivo só foi possível graças a uma conjunção de fatores: a vacinação conseguiu avançar a um porcentual importante da população; depois, as empresas mostraram que estavam preparadas para que houvesse uma reabertura segura, dando condições para a realização de viagens e eventos, movimentando toda a cadeia de alimentação, hospedagem, transporte, entre outros.
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Apesar dos dados favoráveis do ano passado, é importante ressaltar que a comparação foi feita sobre uma base extremamente baixa, em termos históricos. Em 2020, sobretudo entre os meses de março e setembro, o setor ficou “paralisado” por causa da covid-19. Desta forma, o faturamento daquele ano foi de R$ 33,3 bilhões, representando uma queda de 64,1% em relação a 2019.
Assim, na comparação de 2021 com o ano pré-pandemia (2019), o tombo ainda é elevado: 47,6%. Em outras palavras, há um longo caminho a percorrer para o setor se recuperar da crise sanitária.
Estes números podem (e devem) ser utilizados para enfatizar a necessidade de apoio ao setor de viagens corporativas, tal como a extensão da Lei 14.046/20, relativa às regras de cancelamento, remarcações e reembolsos. A FecomercioSP e os demais players do turismo trabalharam intensivamente ao lado do Poder Legislativo para que os benefícios dessa lei fossem prorrogados – conforme ocorreu recentemente, saiba mais!
Dietze enfatizou, durante o evento da Alagev, que a FecomercioSP e o Conselho de Turismo vêm trabalhando nos últimos anos na criação de indicadores sólidos e confiáveis para abastecer o setor de informações relevantes para a tomada de decisões. “A parceria com a Alagev foi essencial para encontrarmos o caminho de abordagem do setor de viagens corporativas. O LVC chega para jogar luz sobre o tamanho de mercado e seu desempenho ao longo do tempo, permitindo cálculos de impactos em momentos atípicos. Os dados mais recentes mostram claramente que o setor de viagens corporativas foi um dos segmentos que mais sofreu na pandemia.”
Confira os números do LVC mais detalhadamente em um infográfico no Lab FecomercioSP.
Perspectivas para 2022
Para este ano, a tendência é que o setor consiga avançar mais uma vez, mesmo com os problemas da ômicron em janeiro. O pico da nova onda já foi superado, e, gradativamente, a rotina vem sendo estabelecida, ainda mais após o período de férias escolares, momento em que há uma redução da atividade das viagens corporativas. A partir de março, a despeito da projeção de um ciclo de expansão mais sólido, outros problemas expressivos também devem ganhar força, tais como a inflação e os juros elevados – os quais inibem investimentos empresariais em viagens.
“Apesar de o cenário parecer negativo, houve uma importante recuperação no segundo semestre do ano passado, influenciada pela vacinação e abertura da economia. Para o futuro próximo, no entanto, o ritmo de recuperação deve ser lento pelos aspectos da economia em geral: inflação, crescimento baixo e juros elevados. Além disso, o atual conflito na Ucrânia pode impactar ainda mais os preços dos serviços turísticos, sobretudo da aviação. Desta forma, como já há um critério maior das empresas em autorizarem viagens corporativas, o processo ficará ainda mais seletivo por conta de custos”, acrescentou Dietze.
Conforme ele explica, outro grande desafio para o setor será a argumentação pró-viagens em relação aos resultados de desempenho obtidos nos últimos dois anos. Os gestores financeiros demandarão cada vez mais explicações consistentes para que gastos adicionais sejam incluídos em viagens curtas – por exemplo, nos casos de encontros online, que não demandam deslocamentos.
Nota metodológica
O Levantamento das Viagens Corporativas (LVC) é realizado mensalmente pela FecomercioSP em parceria com a Alagev. Os dados são coletados de estudos do IBGE, como a Pesquisa Anual de Serviços e a Pesquisa Mensal de Serviços. São levados em consideração setores como transporte aéreo e rodoviário, meios de hospedagem, restaurantes, agências e operadoras, locadoras de veículos, eventos culturais, entre outros. Contudo, o LVC não tem por objetivo trazer de forma detalhada estas informações, mas apenas uma dimensão do mercado de viagens corporativas. A partir dos dados levantados, é feito um extenso trabalho estatístico de ponderação para se chegar ao valor do faturamento nacional da atividade. Os valores são atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também do IBGE.