Editorial
23/08/2016José Pastore analisa as mudanças nas condições de trabalho com a adoção da tecnologia
Para ele, o emprego e o ajuste às novas condições proporcionadas pelo uso da tecnologia (como robôs) nas empresas vão depender da qualidade da educação das pessoas
Destruição de empregos provocada pelas novas tecnologias continua sendo acompanhada pela geração de trabalho na mesma ou em outras áreas
(Reprodução/FreePik)
Por José Pastore
Relato a seguir um diálogo frequente que tenho com empresários brasileiros.
“Estou com medo de contratar empregados. Isso porque (1) os encargos sociais e demais penduricalhos da legislação brasileira encarecem demais a contratação de empregados; (2) volta e meia sou surpreendido por uma ação trabalhista baseada em decisão jurisprudencial da Justiça do Trabalho que nem conhecia; (3) além de custar caro e gerar muita insegurança, raramente consigo contratar empregados que tenham a qualificação adequada às minhas necessidades. O que devo fazer?” Minha resposta é sempre a mesma: “Obedeçarigorosamente alei e a Justiça dentro da sua empresa e saia fora dela para mudar esse estado de coisas junto aos poderes públicos”.
Invariavelmente recebo esta contraproposta: “Sabe de uma coisa? Se a mão de obra é cara, a produtividade é baixa e a Justiça me traz insegurança, vou partir para a robotização”.
É claro, nem tudo pode ser robotizado. Mas admitamos que grande parte dos processos produtivos possa ser realizada com a ajuda de novas tecnologias que aumentam a eficiência e poupam mão de obra. O que acontecerá com o emprego se essa estratégia for adotada generalizadamente?
Os robôs têm sido usados em três ambientes complementares. No primeiro, os robôs realizam tarefas simples e repetitivas, como nas linhas de montagem. No segundo, entram na análise de dados e interpretação de texto, pesquisando grandes massas de processos judiciais, por exemplo, para ali encontrar argumentos e precedentes para uma nova ação. No terceiro, os robôs operam a chamada inteligência artificial, que simula a inteligência humana, como, por exemplo, os que fazem tradução simultânea. E a nova revolução industrial (Fernando Aguirre, A nova revolução industrial, Valor, 6/7/2016; Klaus Schwab, A quartar evolução industrial, Ed. Edipro, 2016).
A inteligência artificial é a que mais apavora os analistas do mercado de trabalho. Em publicação recente (Artificial intelligence, 25/6/2016), a revista The Economist explora as suas vantagens e desvantagens. Do lado positivo, evidentemente, estão a espantosa elevação da produtividade e o desbravamento de novas áreas de produção, poupando insumos e protegendo os trabalhadores contra acidentes e doenças profissionais. Do lado negativo, está a presumida instalação do desemprego crônico. E aqui surge a grande pergunta: haverá chance para os seres humanos ganharem sua vida trabalhando?
Revendo a extensa literatura acumulada nesse campo, os autores da referida matéria ressaltam que a destruição de empregos provocada pelas novas tecnologias continua sendo acompanhada pela geração de trabalho na mesma área ou em outras áreas. Dentre os principais exemplos ali apresentados, destaco:
• os caixas eletrônicos dos bancos passaram a realizar muitas tarefas até então executadas por seres humanos, mas também deram um enorme impulso às atividades bancárias, provocando um aumento de 43% no número de agências bancárias dos Estados Unidos, com consequente ampliação do emprego;
• os computadores usados pelos escritórios de advocacia estão provocando um aumento de 1% ao ano no número de profissionais paralegais nos Estados Unidos, que são responsáveis pela realização de pesquisas de leis e jurisprudência;
• ao lado das mudanças sociais trazidas pelas novas tecnologias, cresce nas sociedades avançadas a demanda por profissões que envolvem empatia e interação humana, como é o caso dos cuidadores de idosos e crianças, enfermeiros e médicos, psicólogos e assistentes sociais, etc.
A conclusão do referido estudo é a que comentei em vários artigos anteriores: o emprego e o ajuste às novas condições do trabalho vão depender basicamente da qualidade da educação das pessoas. Como se vê, tudo começa e acaba na educação.
*José Pastore é presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 23 de agosto de 2016.
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