Editorial
27/12/2021O que esperar da economia internacional em 2022?
Combate à inflação deve dar o tom da política econômica global
Tecnologia já esgotou boa parte do seu processo desinflacionário
(Arte/Tutu)
Por André Sacconato*
O mundo econômico, em 2022, será guiado, principalmente, por uma variável: inflação. Passamos de uma realidade deflacionária para uma inflacionária, com os bancos centrais se vendo obrigados a aumentar juros, principalmente nos Estados Unidos e nos países em desenvolvimento. Até mesmo o presidente do banco central norte-americano (Fed), Jerome Powell, já admitiu que terá de acelerar o processo de retirada dos estímulos e, consequentemente, aumentar os juros no decorrer do próximo ano.
Muitas causas contribuíram para esta mudança. Antes de tudo, a enxurrada de recursos aplicados pelos bancos centrais nas economias – quanto mais moedas circulando, menor valor elas têm. Contudo, esta não é uma causa que explica todo o processo, pois a política monetária expansionista já existe desde a crise imobiliária estadunidense, e, mesmo com muita liquidez, o mundo conseguia manter a inflação baixa.
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O que conta mesmo são fatores estruturais, que começam a fazer efeito. O primeiro é o esgotamento do crescimento explosivo da economia chinesa. Já não é possível continuar a inundar o planeta de produtos baratos como outrora, em razão da falta de mão de obra excedente e da chegada ao limite da produtividade. Além disso, a guerra comercial entre o gigante asiático e os Estados Unidos começa a fechar as portas para o mercado e romper elos da cadeia produtiva – nos dois casos, gerando um processo inflacionário claro.
A tecnologia já esgotou boa parte do seu processo desinflacionário. Ao trocar o aluguel de filmes por streaming, economizamos bastante. Agora, não parece haver uma nova onda que possa manter esta pressão de preços para baixo. O mesmo podemos dizer da demografia: as populações mais jovens poupam mais e gastam menos, enquanto as mais idosas gastam o que pouparam. Quanto mais poupança, menos inflação. Com o envelhecimento das pessoas, teremos um mundo mais propenso à inflação. Os países em desenvolvimento já mostram uma clara tendência a convergir com as nações mais ricas: um povo, em média, mais velho.
Um último ponto é a transformação das matrizes energéticas em energia limpa. O processo é caro. Na China, que usava primordialmente carvão, a mudança será significativa. Para produzir o mesmo item, será necessário um custo bem maior. Isso encarece o preço médio de toda a economia, que, consequentemente, alimenta a inflação.
Todos estes fatores farão com que alguns bancos centrais iniciem um processo de normalização monetária e aumento de juros. Isso deve fazer parte dos dólares voltar aos Estados Unidos, diminuindo o ímpeto de crescimento do investimento em outros países. Além disso, deve pressionar a taxa de câmbio das nações em desenvolvimento.
Em termos de expansão, tanto o país norte-americano como a China claramente devem crescer menos do que em 2021, em decorrência do aumento gerado pela recuperação da pandemia. Em 2022, algumas das flexibilizações necessárias para combater os efeitos da crise sanitária terão de ser corrigidas. Ainda assim, o gigante asiático deve crescer próximo a 5%, e os Estados Unidos, a 3%. Será um ano mais difícil para a economia brasileira, com o mundo crescendo menos e os juros norte-americanos absorvendo parte do excesso de dólares mundial. Esta manobra obrigará o Banco Central brasileiro (Bacen) a aumentar os juros por aqui também.
Certamente, 2022 trará um cenário internacional menos favorável para o País do que 2021. E precisamos estar preparados para absorvê-lo.
Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 24 de dezembro de 2021.