Sustentabilidade
30/08/2016Reciclagem de resíduos da construção civil economiza recursos naturais e reduz custos
No entanto, pesquisa do setor aponta que menos da metade do total gerado anualmente é reaproveitado
Usinas de reciclagem estão entre os destinos ambientalmente adequados para receber os resíduos da construção civil
(Arte/TUTU)
Por Jamille Niero
Os resíduos originados de construções e demolições (RCD) representam de 40% a 70% de todos os rejeitos sólidos nas cidades brasileiras de médio e grande porte. A produção anual gira em torno dos 84 milhões de m³ e menos da metade dessa quantidade (cerca de 46%) é reciclada. As estimativas constam na última pesquisa setorial da Associação Brasileira para a Reciclagem de Resíduos de Construção Civil e Demolição (Abrecon).
Para a assessora do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) Cristiane Cortez as grandes construtoras estão preocupadas com a quantidade de entulho produzido e contam com programas para diminuir o desperdício. “A maioria delas também têm segregação dos materiais como madeira, concreto, cimento, vidro, entre outros e dá a destinação adequada, a reciclagem. É a menor parte do resíduo que vai para aterros”, diz.
Já em relação ao poder público, ela cita como exemplo positivo o Sistema Estadual de Gerenciamento Online de Resíduos Sólidos (SIGOR) paulista, criado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). É uma ferramenta que auxilia no monitoramento da gestão dos resíduos sólidos desde sua geração até sua destinação final. Há um módulo específico para RCD, que segue a legislação nacional vigente (resolução Conama 307/2002 alterada pelas Resoluções Conama 348/2004, 431/2011, 448/2012 e 469/2015), que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. O sistema inclui ainda a lista dos agentes envolvidos cadastrados (gerador, transportador e destino).
Usinas de reciclagem
As usinas de reciclagem estão entre os destinos ambientalmente adequados para receber os resíduos da construção civil. Segundo os dados da Abrecon, existem usinas de reciclagem no Brasil desde 1986, mas esse número só avançou após a publicação da resolução Conama 307.
Em 2009, havia por volta de 48 usinas instaladas no País (metade delas era pública) e a reciclagem de RCD era estimada em apenas 4,8%. Hoje, já existem pelo menos 310, sendo 74% fixas, 21% móveis e 5% fixas e móveis. O Estado de São Paulo concentra mais da metade (54%) do total.
Um destaque do segmento são as usinas móveis, que, segundo a Abrecon, registraram crescimento na quantidade de unidades em operação nos últimos cinco anos e a tendência é continuar crescendo.
Uma das empresas paulistas que opera nesse modelo é a Recinert Ambientale. A companhia iniciou as atividades em 2008, quando importou os equipamentos para britagem dos resíduos no próprio local da obra para reutilização do material ali mesmo.
Vinicius Buso, diretor da empresa, cujo foco é atender construtoras e grandes obras, conta que houve resistência dos potenciais clientes no início. Mas a desconfiança acabou ao demonstrar que “jogar fora” os resíduos custava o dobro de britá-los e reutilizá-los na própria obra.
Segundo ele, o modelo adotado pela Recinert ainda reduz os custos da logística de transporte e da distribuição para outros clientes. “A sustentabilidade e o cuidado com o impacto ecológico é importante, mas se não vier acompanhado de redução de custo real, é muito difícil as pessoas adotarem a reciclagem”, comenta Buso. Ele explica que hoje, o valor do material reciclado para construir o piso do estabelecimento, por exemplo, chega a ser de 20% a 30% menor comparado com o material virgem da pedreira.
Buso relata ainda que a crise econômica reduziu a demanda, já que o número de construções e reformas também caiu, mas a empresa já chegou a reciclar por volta de 100 mil metros³ em um ano.
Entraves
Apesar das vantagens da reciclagem dos resíduos da construção civil, o segmento encara alguns desafios para conseguir explorar todo o potencial produtivo. Segundo a pesquisa da Abrecon, a maioria das usinas brasileiras tem capacidade instalada de produção entre 5.000 m³ e 10.000 m³ por mês. Mas o volume médio produzido é inferior - 52% das usinas do País produzem até 3.000m³/mês.
Além disso, aponta o levantamento, entre as principais dificuldades apontadas para a venda do agregado reciclado estão a inexistência de legislação que incentive o consumo (31%), a elevada carga tributária (26%) e a falta de conhecimento do mercado (26%).
Para Hewerton Bartoli, sócio das empresas R3ciclo (que presta serviços relacionados à reciclagem, como a britagem móvel na obra), e CTR - Central de Triagem e Reciclagem (usina fixa) é preciso também difundir massivamente o descarte para reciclagem e o consumo do produto, incentivando a conscientização dos geradores e transportadores. “Ainda convivemos com uma concorrência desleal de vazadouros clandestinos. Além disso, a legislação precisa ser expandida e aprimorada. É preciso isentar o agregado de tributação e criar incentivos fiscais para maior desenvolvimento da cadeia.”
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