Sustentabilidade
10/06/2022Negócios com visão transdisciplinar são indispensáveis para o desenvolvimento sustentável
Ricardo Abramovay, professor do Programa de Ciência Ambiental do IEE/USP, indica que empresas precisam ter consciência do que ofertam à sociedade
"Mundo empresarial precisa de visão transdisciplinar", afirma Ricardo Abramovay
(Foto: Divulgação)
Assim como a comunidade acadêmica e os governos precisam correlacionar assuntos para produzir, respectivamente, conhecimento científico e políticas públicas eficientes, também é necessário que o mundo empresarial adote uma visão transdisciplinar a respeito de suas atividades. Do contrário, não será possível trilhar a rota do desenvolvimento sustentável, de acordo com Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP).
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Abramovay defende que temas relevantes para a vida em sociedade sejam tratados de forma ampla, uma vez que as consequências não se limitam a uma área específica – por exemplo, a política de energia, além do Ministério de Minas e Energia, é de interesse das pastas do Meio Ambiente e da Economia.
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Desta forma, na opinião do professor, as empresas também precisam ter uma visão abrangente sobre o que produzem.
Abramovay cita argumentos apresentados por William McDonough e Michael Braungart no livro The Upcycle: Beyond Sustainability – Designing for Abundance (“A reutilização criativa: além da sustentabilidade – projetando para a abundância”, em tradução livre para o português) a respeito do assunto.
“Neste livro, eles tratam de uma coisa muito importante: qualquer projeto tem de ter valores como ponto de partida. Quais são os valores a partir dos quais faço o que estou fazendo? E a pergunta-chave do dirigente empresarial deve ser: ‘Depois de oferecer isso ao mercado, o que vai acontecer?’”, sinaliza.
“Até aqui, a resposta tem sido: ‘Isso não é da minha conta. Se o meu produto vai provocar obesidade, isso é assunto do Ministério da Saúde; se o meu produto vai para o lixo e gerar poluição, isso é assunto do Ministério do Meio Ambiente. O que estou fazendo é simplesmente oferecer à sociedade o que ela quer’”, avalia o especialista.
“Enquanto tivermos esta mentalidade, não teremos desenvolvimento sustentável”, acrescenta.
Além disso, Abramovay enaltece os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) elencados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Contudo, aponta que até mesmo este documento induz a pensar o mundo de forma fragmentada.
“Cidades sustentáveis e oceanos não são duas coisas que podem ser objetos de especialistas díspares. Todos precisam conversar e interagir. Justiça, paz, luta contra o racismo, luta contra o abuso policial – tudo é parte decisiva do desenvolvimento sustentável. Neste sentido, acho que estamos muito distantes desta visão, que só pode ser transdisciplinar”, pontua. “O mundo empresarial também precisa ter essa visão”, reforça.
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