Economia
13/01/2017“Arquitetura era feita priorizando prédios, não as pessoas”, diz Jan Gehl
Arquiteto e urbanista dinamarquês critica o modelo modernista adotado na construção de cidades como Brasília

Para Jan Gehl, Brasília é uma cidade interessante vista do avião, mas não é confortável para se morar
(Foto/TUTU)
O modelo arquitetônico que dominou a construção das grandes cidades do mundo no século passado não levou em conta a vida social e a saúde das pessoas, privilegiando apenas as formas dos prédios. É o que diz o arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, autor de diversos livros e crítico do modernismo.
“Municípios precisam de mais autonomia tributária”, diz José Mario Brasiliense Carneiro
FecomercioSP sugere propostas para a revitalização da cidade de São Paulo
Em entrevista ao UM BRASIL, Gehl cita Brasília como um modelo ruim de planejamento urbano, dizendo que a cidade foi construída sem pensar nas pessoas que viveriam lá, além de beneficiar a cultura do automóvel, uma vez que os edifícios foram erguidos a longas distâncias uns dos outros.
“Brasília é interessante, porque é incrível vista do avião. E, lá embaixo, onde as pessoas estão, ao nível do olho, ela não é nada bonita. E os construtores não pensaram nas pessoas nas ruas, nas pessoas entre os prédios. Apenas fizeram os prédios, então sobrou um espaço entre os prédios, daí chamaram alguns paisagistas para fazer uma jardinagem. Olharam para a janela para ver se as pessoas estavam felizes, mas não estavam”, diz o autor do livro “Cidades para Pessoas”.
Segundo Gehl, a prioridade do modelo modernista são as formas e, em seguida, o paisagismo. Por isso, a vida em cidades como Brasília tende a ser desconfortante.
“Demoramos 50 anos para provar realmente que esse tipo de planejamento urbano não é humanístico. Não é para as pessoas e podemos fazer algo muito melhor. Podemos reparar as cidades existentes e podemos fazer novas cidades muitos melhores do que Brasília ou do que se vê em São Paulo”, afirma o arquiteto.
De acordo com ele, a longevidade do modernismo urbano se deve às forças de mercado, principalmente à indústria automobilística e à construção civil, em detrimento da saúde dos cidadãos e do cuidado com o meio ambiente.
“Essa ideia velha de planejamento urbano também foi apoiada pelo automobilismo, pelos carros que devem levar as pessoas de um lugar a outro. Isso significa que, durante 50 anos, fizemos um planejamento urbano que convida as pessoas a sentarem o dia todo. E agora sabemos que isso é um grande problema para a saúde”, diz Gehl.
Crítico contumaz do modernismo, Gehl afirma que, se tratada apenas pelo impacto visual, a arquitetura se resume a uma prática similar à escultura.
“Eu penso que boa arquitetura não é apenas forma, porque isso é escultura. Boa arquitetura é interação entre forma e vida. E somente se a interação funciona bem, e essa forma suporta a vida, seja numa área ou num prédio, trata-se de boa arquitetura.”
Confira a entrevista na íntegra abaixo:
Ao mencionar esta notícia, por favor referencie a mesma através desse link:
www.fecomercio.com.br/um-brasil/materias/arquitetura-era-feita-priorizando-predios-nao-as-pessoas-diz-jan-gehl
Notícias relacionadas
-
Mercado
IPCA desacelera em maio e abre espaço para a manutenção da Selic
Alta de 0,26% no índice oficial de inflação foi menor que a esperada e reflete alívio nos preços de alimentos e serviços
-
Economia Digital
IA aplicada à logística beneficia o e-commerce; veja como
Modernização do EstadoEntidade defende contratação temporária e fim de privilégios
Modernização do EstadoComo o Estado pode ser mais eficiente? Veja as propostas
Recomendadas para você
-
Economia Digital
Cerco às Big Techs: decisão do STF impõe novo regime de moderação da internet
Medida abre caminhos para que plataformas digitais sejam responsabilizadas por conteúdos
-
Mercado
Confiança do empresário do Comércio sobe em julho, mas queda anual aponta reflexo negativo da política econômica
Aumento de impostos, juros elevados e falta de corte de gastos geram cautela em relação ao futuro e aos investimentos
-
Mercado
Preocupações econômicas retraem consumo das famílias paulistanas
Índices de confiança e de consumo sofreram recuos de 11,6% e 4,6%, na comparação anual
-
Brasil
Empresários estão mais pessimistas com cenário econômico
ICEC sobe 1,8% em maio, mas continua abaixo da linha do otimismo; IEC registra sexta queda consecutiva