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Economia

“Brasil está em uma bagunça fiscal”, diz Andrés Velasco

Doutor em Economia afirma que expansão dos gastos públicos foi além da conta e que País não sairá da crise de maneira perfeita

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“Brasil está em uma bagunça fiscal”, diz Andrés Velasco

Segundo Andrés Velasco, Brasil errou ao continuar expandindo os gastos após a crise financeira internacional de 2008
(Foto/TUTU)

Países da América Latina souberam controlar seus gastos melhor do que nunca durante o último ciclo de alta de commodities que marcou a década passada, mas o Brasil, apesar de ter se favorecido nesse período, errou ao expandir demais a política fiscal após a crise financeira iniciada em 2008, o que deteriorou as contas públicas do Estado brasileiro. É o que diz o doutor em Economia pela Universidade de Columbia e professor da Escola de Relações Internacionais e Políticas Públicas da mesma instituição, Andrés Velasco.

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Em entrevista ao UM BRASIL, em parceria com a Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade Columbia, de Nova York, o economista que foi ministro da Fazenda do Chile diz que ciclos de alta de commodities costumam ser seguidos por períodos de redução da atividade econômica, porque os países não se preparam adequadamente para essa etapa.

“O ciclo recente foi menos mal do que o anterior com relação à política fiscal. O problema é que quando você produz commodities e elas são baratas, ninguém quer emprestar para você. Quando, de repente, sobe o preço do cobre ou do petróleo ou do trigo ou de qualquer outra commodity, você tem mais dinheiro e, além disso, é mais solvente, então todos querem emprestar para você”, diz Velasco.

"Historicamente, muitos produtores de commodities, inclusive a América Latina, quando há uma alta repentina das commodities, têm uma alta nos gastos e também no crédito. Qual é o problema? Que essas altas uma hora terminem e os países acabem com muitas dívidas. O ajuste precisa ser muito agudo e abrupto, e isso é ruim para o crescimento, para as ações, para o padrão de vida”, completa.

Segundo ele, os países da América Latina beneficiados pela alta dos preços das commodities na década passada conseguiram ser mais cuidadosos com a política fiscal, inclusive o Brasil. No entanto, o País não economizou o suficiente para acabar com sua dívida.

“Após a alta, o Brasil ainda tinha uma dívida muito grande, comprovadamente uma enorme obrigação financeira. O outro problema no Brasil é que quando a grande crise financeira começou em 2008, 2009, o Brasil tentou colocar em prática uma política fiscal anticíclica, o que é uma boa ideia. O problema é que, por definição, políticas anticíclicas precisam ser temporárias. Quando a crise começa, você gasta mais; quando a crise termina, você gasta menos. O Brasil continuou gastando, não só em 2009, mas em 2010, 2011, 2012, 2013, e a consequência é muito claro: hoje o Brasil está em uma bagunça fiscal e isso é ruim para o crescimento, requer um grande ajuste fiscal”, explica o doutor em Economia.

Velasco diz que, hoje, com o mundo crescendo menos e incertezas na economia internacional, como a presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, é mais difícil se recuperar de uma crise, uma vez que o país em recessão terá de se erguer quase que por conta própria. Para isso, ele diz que, em razão dessa situação mais complexa, a inovação nas instituições políticas é ainda mais necessária, o que pode ser bom para o desenvolvimento do país.

“O que quero dizer é que quando o mundo cresce rapidamente, quando o preço das commodities está muito alto, países latino-americanos crescem independentemente do que você faça. O fato marcante dos últimos 15 anos é que países com boas políticas cresceram e países com políticas terríveis também cresceram. Hoje, isso acabou. Agora o mundo cresce mais devagar, a Europa está com problemas, o Japão está estagnado, a China ainda cresce, mas a 5%, não mais a 10%, e o governo Trump é uma grande incógnita.”

Diante disso, Velasco diz que o Brasil não encontrará a política perfeita para sair da crise, mas ressalta que o País precisa tomar uma atitude radical quanto ao caminho a ser trilhado.

“Inevitavelmente, o que quer que o Brasil faça não será a política ideal, ou talvez seja uma combinação que seja, esperamos, melhor que a crise atual, mas não necessariamente perfeita”, afirma o economista.

A entrevista integra a série que discute estratégias para o crescimento e o papel do Estado na economia, gravada em São Paulo e no Rio de Janeiro, em dezembro de 2016.

Confira na íntegra abaixo:

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