Economia
08/03/2019Não se conhece toda a dimensão do setor financeiro para evitar nova crise
Professor da Universidade Columbia, Takatoshi Ito alerta que instituições não bancárias carecem de regulação dos bancos centrais

Segundo Takatoshi Ito, países emergentes como o Brasil devem se resguardar de efeito contágio de uma eventual crise
(Foto: Christian Parente)
A maioria das crises econômicas acontece quando instituições financeiras afrouxam a percepção de risco e emprestam demais e, embora a regulação sobre o sistema bancário tenha sido enrijecida, a participação dos bancos no sistema financeiro tem diminuído. Diante disso, o economista e professor da Faculdade de Relações Públicas e Internacionais da Universidade Columbia Takatoshi Ito alerta que há atividades financeiras que não são propriamente reguladas, dificultando a previsão sobre uma eventual próxima crise e seu potencial de contágio.
“Sabemos que, agora, os bancos são uma parte menor do sistema financeiro, e que fundos de cobertura, private equity e outras instituições que se tornaram grandes e não são bancos, ou seja, não são propriamente regulados, possuem algum tipo de relação que não vemos”, comenta Ito, em entrevista ao UM BRASIL. “Os bancos podem estar bem, mas talvez não se conheça toda a dimensão de outros setores financeiros”, complementa.
Veja também
Abertura comercial é a mãe de todas as reformas, aponta economista Edmar Bacha
Falta de pesquisa e inovação reduz produtividade de empresas brasileiras, diz José Scheinkman
Convergência é chave para enfrentar desafios fiscal e educacional do País, afirma Pedro Malan
De acordo com o professor, duas situações que aumentam o risco de crise têm se materializado: ao mesmo tempo que os empréstimos estão aumentando, o Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, vem, há três anos, elevando a taxa de juros. Para ele, trata-se de um cenário com “evidências circunstancias que apontam vulnerabilidade e a possibilidade de uma crise”, embora seja difícil indicar quando e onde possa ocorrer.
De todo modo, Ito ressalta a necessidade de países emergentes se resguardarem do efeito contágio, que geralmente se manifesta quando há uma vazão dos fluxos de capital em direção a economias mais estabelecidas. Assim, ele recomenda que mercados emergentes tornem seus sistemas “resilientes” à saída de recursos financeiros por meio de depreciação cambial e manutenção de um volume adequado de reservas internacionais.
“Lembre-se do que aconteceu em 2008 e 2009. Os bancos americanos e europeus deixaram os países emergentes e enviaram o dinheiro e o capital de volta para as sedes para ajudá-las. Então, esses são os canais por meio dos quais o fluxo de capital aconteceria, e isso pode ocorrer de novo se começar uma crise nos países desenvolvidos”, ressalta.
Ásia
Natural do Japão, Ito também comenta que seu país e outros da Ásia – como Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e China – conseguiram ultrapassar nações africanas e latino-americanas em termos de crescimento econômico nas últimas décadas em função de um modelo diferenciado de industrialização.
“O consenso é de que os países do leste asiático obtiveram êxito porque enfatizaram as indústrias voltadas à exportação e promoveram a concorrência entre os exportadores e também nos mercados domésticos. Então, a comparação é entre a promoção das exportações e a substituição de importações [modelo latino-americano]. E a promoção da exportação é muito melhor”, opina.
A entrevista é resultado do evento “III Fórum: A Mudança do Papel do Estado”, uma realização UM BRASIL; Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP); Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade Columbia; Fundação Lemann; revista VOTO; e Instituto de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Ao mencionar esta notícia, por favor referencie a mesma através desse link:
www.fecomercio.com.br/um-brasil/materias/nao-se-conhece-toda-a-dimensao-do-setor-financeiro-para-evitar-nova-crise
Notícias relacionadas
-
Economia Digital
Banco do Povo Paulista: crédito sob medida para MPEs
Micro e pequenas empresas podem financiar até R$ 21 mil com prazo de pagamento em até 30 meses e carência de 60 dias
-
Mercado
Comércio e Serviços geraram, juntos, quase 358 mil empregos formais em São Paulo
BrasilFeriados podem gerar perda de R$ 19,8 bilhões ao Comércio
Economia DigitalMEI: oportunidades no segmento de produtos naturais
Recomendadas para você
-
Brasil
Dólar alto exigirá mais cautela das empresas
Pacote fiscal insuficiente e política de expansão de gastos impedem melhora do cenário no curto prazo
-
Brasil
Relações internacionais desafiam novo governo dos Estados Unidos
Pesquisador Michael Shifter analisa e debate as expectativas econômicas e políticas
-
Economia Digital
Expresso MEI: use o Canva para comunicação visual
Boletim Expresso MEI traz um passo a passo para utilizar a ferramenta e conquistar mais clientes
-
Brasil
Natal em alta: vendas do varejo paulista devem crescer 9%
Capital também terá melhora nos indicadores (alta de 7,7%) em 2024