Economia
23/04/2021Países em desenvolvimento serão os primeiros a ter empregos destruídos pela inteligência artificial
Ronaldo Lemos, cientista-chefe do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, diz que Brasil precisa de plano de resposta à automação
“O trabalho cognitivo também está sendo substituído por máquinas”, alerta Ronaldo Lemos
(Divulgação)
O medo de que a Inteligência Artificial (IA) se desenvolva ao ponto de tornar obsoletas diversas atividades atualmente exercidas por humanos, incluindo as intelectuais e cognitivas, deveria servir de alerta para que países emergentes investissem em capacitação profissional e criassem planos nacionais de resposta à automação, especialmente porque “os primeiros empregos que vão acabar são em países em desenvolvimento, como o Brasil”, indica o cientista-chefe do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Ronaldo Lemos.
Confira o calendário aqui.
“A inteligência artificial não vai eliminar, primeiro, os empregos nos Estados Unidos ou na Europa. Vai eliminar, primeiro, os empregos daqui da América Latina. Nós seremos os primeiros a perdê-los e enxergamos isso, por exemplo, no processo de desindustrialização pelo qual o País está passando”, afirma Lemos, em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP.
Confira mais entrevistas do UM BRASIL
Proteções trabalhistas têm de ser direcionadas às pessoas, e não aos empregos
Brasil precisa manter “atitude reformista”, abrir o comércio e desburocratizar o empreendedorismo
Empresa inteligente alia gestão digital enxuta e inovação que surge da diversidade
Também professor de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Lemos ressalta que, além de perder capacidade produtiva, citando o fechamento de parques fabris de montadoras como exemplo, o Brasil também está “abrindo mão da infraestrutura informacional”.
“Os efeitos disso são muito graves, porque faz com que possamos, no futuro, ser equiparados a uma colônia, no sentido de que o País tem uma população muito grande, então, manda para fora dados, que são a matéria-prima do mundo em que vivemos hoje, e esses dados são processados e geram valor, serviços e produtos – e compramos esses produtos”, explica.
Além disso, Lemos ressalta que, contrariando quem acreditava que a IA somente replicaria atividades manufatureiras, “o trabalho cognitivo também está sendo substituído por máquinas”.
Este problema, contudo, não tem o mesmo impacto em todos os lugares do mundo. Os países ricos, segundo ele, já têm planos de resposta à automação, os quais envolvem reformas educacionais, programas de ensino de novas habilidades profissionais e rede de bem-estar social para trabalhadores em transição de carreira.
“No Brasil, onde temos um déficit educacional gigantesco, não existe um plano nacional de inteligência artificial. Então, acho que o impacto aqui chega primeiro, muito mais profundo e mais difícil de lidar”, reitera.
Para reverter este possível cenário, o primeiro passo depende da implementação da tecnologia 5G. “Na minha visão, o 5G está atrasado, já deveríamos tê-lo. Mais do que isso, se atrasar ainda mais, as aplicações de 5G vão ser desenvolvidas em outros países. Assim, quando o Brasil finalmente tiver, o papel que vai nos caber será o de consumidor desta tecnologia, e não de produtor. Eu gostaria de ver o contrário”, destaca.
Assista a entrevista na íntegra e se inscreva no canal UM BRASIL.
Ao mencionar esta notícia, por favor referencie a mesma através desse link:
www.fecomercio.com.br/um-brasil/materias/paises-em-desenvolvimento-serao-os-primeiros-a-ter-empregos-destruidos-pela-inteligencia-artificial
Notícias relacionadas
-
Mercado
Projeções de vendas do Dia das Crianças estão em alta
Valor, que representa expansão em comparação ao mesmo período de 2023, reflete cenário econômico estável
-
Brasil
Natal em alta: vendas do varejo paulista devem crescer 9%
BrasilInflação, gastos e eleição dos EUA geram aumento da Selic
MercadoÂnimo dos empresários com vendas do final do ano cresce
Recomendadas para você
-
Modernização do Estado
Reunião Plenária: Maílson da Nóbrega analisa cenário global
Resiliência e capacidade para realizar reformas são fundamentais para o Brasil superar a instabilidade
-
Brasil
No Brasil, profissões ligadas à tecnologia cresce até 740% em dez anos
Estudo produzido pela FecomercioSP mostra impacto da digitalização da economia sobre o emprego
-
Modernização do Estado
FecomercioSP convoca empresariado para assinar a carta aberta
Em evento no Sescon-SP, Entidade reforça a relevância da modernização do Estado e apresenta medidas
-
Mercado
Atacado paulista tem mais trabalhadores qualificados do que média nacional
FecomercioSP aponta, porém, que setor lida com dificuldades para conseguir profissionais capacitados