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Economia

Política externa brasileira precisa ser orientada pelo pragmatismo dos interesses nacionais

Veja debate entre a professora da Faap, Fernanda Magnotta, e a diplomata Irene Vida Gala

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Política externa brasileira precisa ser orientada pelo pragmatismo dos interesses nacionais
Fotos: UM BRASIL

É fundamental que a formação de políticas diplomáticas de Estado e de governo levem em conta as transformações correntes em todo o mundo, sem deixar de lado os fatores de interesse permanente. “As políticas de governo [do Brasil], aquelas que consideram a leitura do momento, não podem estar engessadas em parcerias ou modos de pensar o mundo que não reflitam a alteração do ambiente internacional. Já a nossa parceria com a América do Sul é um interesse permanente. Não podemos fugir do nosso entorno geográfico; a geografia é um dado incontornável”, defende Irene Vida Gala, subchefe do Escritório de Representação do Itamaraty em São Paulo. 

Irene participou de debate promovido pelo Canal UM BRASIL – uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) – em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), ao lado de Fernanda Magnotta, professora e coordenadora do curso de Relações Internacionais na mesma instituição. Para Fernanda, uma política externa que carregue uma ideologia se torna um problema quando a visão de mundo do(da) líder da nação faz com que se perca a objetividade dessa política. 

“Ela [a ideologia] cega, diante das formas como podemos diagnosticar os conflitos postos na realidade, bem como as opções disponíveis para lidar com eles”, pondera. “A visão de mundo é parte da democracia, do debate público e da negociação constante, de forma que ninguém será neutro, mas precisa ser objetivo, cumprindo com as prerrogativas do que se espera em termos de longo prazo”, Fernanda salienta.  

Em outras palavras, Fernanda sinaliza que o interesse nacional pode seguir diferentes rotas e adotar diversos meios para se realizar – requalificando parceiros e seus níveis de prioridade –, mas é necessário mirar em uma direção que faça sentido ao povo. 

Desenvolvimento qualificado e pilares do século   

Na conversa, Irene define alguns dos ativos que são pilares para a política externa brasileira no século 21: a quantidade de países vizinhos e as necessidades de diplomacia e de relação intensa; o fato de sermos uma economia de peso e uma potência agrícola; e, ainda, a discussão em torno das mudanças climáticas, que torna a Amazônia (localizada predominantemente em território brasileiro) um tema de interesse global. “Eu adoraria falar da nossa capacidade em ciência e tecnologia, mas, no aspecto da industrialização e de tudo o que está associado a um valor agregado em produção intelectual, nós estamos aquém do que poderíamos estar.” Ela ainda explica que a noção de desenvolvimento no País, que representa uma política permanente de Estado, precisa evoluir de um valor absoluto e historicamente fechado no aspecto econômico.  

“Eu acredito que se a Constituição de 1988 fosse reescrita hoje, este desenvolvimento seria qualificado, sustentável e, certamente, inclusivo, pois a sociedade brasileira reconhece as desigualdades como um de seus problemas essenciais. Um desenvolvimento que supere as desigualdades, ou que contribua para isso, é um valor permanente de uma política de Estado diplomática. Nos últimos anos, ficamos muito carentes desta visão de interesse nacional que fosse mais ampla [nestes aspectos] e no respeito ao conjunto da sociedade”, reforça a diplomata. 

O momento na política externa brasileira 

O Brasil está diante da oportunidade de se reengajar nos padrões e parâmetros já conhecidos pela história diplomática nacional, em função de valores defendidos há décadas pelo Itamaraty e por lideranças internas, independentemente da matriz política, Fernanda complementa. “Trata-se de uma política externa engajada, ativa, universalista. Estamos falando de um Brasil que busca protagonismo, que tenta se pôr como mediador de grandes crises, articular no campo multilateral e que irá colher, nesta busca por reconhecimento, algumas vantagens – e cavar espaço para levar seus interesses adiante”, destaca. 

Ela ainda pondera que, dentro de uma política externa universalista, um dos desafios do Brasil é conseguir navegar entre as disputas que acontecem do ponto de vista de uma transição hegemônica entre Estados Unidos e China, ao garantir os próprios interesses e diversificar os riscos, sem necessariamente se comprometer com nenhum destes dois parceiros. “A política externa, neste cenário, precisa ser orientada pelo pragmatismo dos nossos desejos: desenvolvimento das nossas capacidades, garantia de espaço em mercados, transferência de tecnologia, acesso à ciência, defesa das nossas agendas políticas e reforço das nossas posições multilaterais”, conclui a professora.

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