Negócios
17/05/2019“Precisaremos de especialistas em China no setor privado e nas universidades”, diz Oliver Stuenkel
Segundo professor de Relações Internacionais da FGV, Brasil carece de conhecimento sobre seu principal parceiro comercial
Para Oliver Stuenkel, independentemente das ideologias dos governos brasileiros, China deve continuar sendo o principal parceiro comercial do País nas próximas décadas
(Foto: Christian Parente)
Se a economia mundial continuar avançando na mesma toada, a China ultrapassará os Estados Unidos e se tornará a maior economia do mundo nas próximas décadas. Independentemente da postura do atual e dos próximos governos brasileiros, mesmo que contrários à política externa chinesa, o país asiático deverá continuar sendo o principal parceiro comercial do Brasil. Portanto, para não perder oportunidades de negócios e de desenvolvimento, é necessário que a diplomacia, o setor privado e a academia se debrucem para entender como a China funciona. A avaliação é do professor adjunto de Relações Internacionais na Fundação Getulio Vargas (FGV) e doutor em Ciência Política pela Universidade de Duisburg-Essen (Alemanha), Oliver Stuenkel.
Em entrevista ao UM BRASIL, Stuenkel comenta que, enquanto pouco sabemos sobre os negócios, a cultura e a política da China, as autoridades do gigante asiático entendem como esses aspectos funcionam no Brasil e, com isso, planejam como se dará a relação com o País pelas próximas décadas.
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Quem precisa ganhar com a política externa é a sociedade
“É um erro dizer que [só] o governo ou o Itamaraty precisa fazer mais. Há diplomatas brasileiros que falam chinês, entendem a China, mas é um grupo minúsculo. O Brasil tem pouquíssimos diplomatas. Então, precisa ser um esforço também das empresas e das universidades [para entender a China]”, avalia Stuenkel.
“O meu desespero semanal é que muitos alunos meus querem fazer intercâmbio na Espanha, em Portugal, ou na França, e pouquíssimos querem ir para a China. Essas são as pessoas que assumirão posições de liderança na sociedade brasileira daqui a 20 anos”, alerta, citando um eventual vácuo de conhecimento sobre o maior parceiro comercial do País.
Segundo Stuenkel, apesar de a política externa do governo de Jair Bolsonaro adotar uma “retórica mais pró-Estados Unidos”, a China deve seguir sendo o principal parceiro comercial do Brasil, “porque, no fundo, é algo que nenhum governo consegue mudar”.
Ele reforça esse argumento dizendo que, enquanto os Estados Unidos ainda consideram a América Latina o seu quintal de influência, a China, “sem muita percepção pública”, se aproximou de diversos países da região e essa relação “tende a aumentar cada vez mais”.
“Daqui a 20 anos, se tudo continuar do jeito que está acontecendo hoje, a economia chinesa será muito maior do que a norte-americana. Teremos que ter especialistas em China no setor privado, na sociedade civil, nas universidades, e não só para se alinhar com a China, mas para saber negociar”, afirma Oliver Stuenkel.
Ele, por outro lado, diz que não se deve descartar o papel dos Estados Unidos na política global. “A melhor solução será manter boas relações com os dois lados e, de certa maneira, o Brasil está fazendo isso”, aponta o especialista em relações internacionais.
Confira a entrevista a seguir na íntegra:
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